Imagine o dia em que os ônibus em circulação, no lugar do ronco do motor e de um rastro de fumaça, deixarem para trás apenas silêncio e vapor d’água.
Agora suponha que, ao tirar o carro da garagem, você não precise mais encher o tanque com gasolina ou álcool: bastará plugá-lo na tomada ou calibrar o cilindro de hidrogênio para pisar no acelerador sem comprometer a saúde do planeta. Esse mesmo veículo, além de ser equipado com um medidor ecológico no computador de bordo, terá espaço extra no capô, porque a mecânica ficará toda dentro das rodas – do motor à suspensão. Utopia? Nem tanto.
Essas e outras ideias foram apresentadas em um evento que reuniu 5 mil pessoas nos pavilhões do Riocentro, zona oeste do Rio de Janeiro, no início do mês. Para mostrar ao mundo o que já existe e o que ainda está por vir em prol de uma mobilidade rodoviária sustentável, a décima edição do Michelin Challenge Bibendum envolveu os grandes nomes da indústria automobilística internacional e apresentou conceitos e protótipos, alguns prestes a entrar no mercado. Confira, a seguir, as principais novidades da feira:
Ônibus mais verde – Desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um ônibus movido a hidrogênio e energia elétrica está prestes a ganhar as ruas da Cidade Maravilhosa. A partir de agosto, o veículo apresentado no Riocentro irá circular pelo campus da instituição e, de outubro em diante, deverá assumir a linha que liga os aeroportos Santos Dumont e Galeão. Tudo para que, na Copa do Mundo de 2014, o Brasil possa contar com um transporte público de qualidade.
A ideia, segundo o professor Paulo Emílio Valadão de Miranda, diretor do Laboratório de Hidrogênio da UFRJ e criador do ônibus verde, surgiu em 2004. Na época, o projeto foi aprovado e recebeu financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Petrobras e de mais dois órgãos de pesquisa. Empresas e instituições públicas também apoiaram a iniciativa, em um investimento total de cerca de R$ 10 milhões.
– Já existem ônibus do tipo no Hemisfério Norte, mas a tecnologia que inventamos está à frente. É mais barata e mais eficiente – afirma Miranda.
O protótipo brasileiro conjuga diferentes fontes de energia. Além das pilhas a hidrogênio, o ônibus conta com baterias semelhantes às usadas em telefones celulares, recarregadas após três horas na tomada, e com O ônibus tem o tamanho e a aparência de qualquer outro veículo do tipo, conta com ar-condicionado e transporta 29 passageiros sentados e 40 em pé.
Miranda afirma que a Petrobras está instalando uma estação de abastecimento de hidrogênio no campus. Se tudo der certo, a expectativa é de que novos exemplares sejam produzidos nos próximos anos para que, aos poucos, substituam a frota atual.
Visual carioca – O desenho do ônibus foi elaborado por três alunas do curso de Design Gráfico da Escola de Belas Artes da UFRJ. Elas venceram um concurso promovido pela universidade para compor a identidade visual do veículo. O desafio, segundo Dandara Dantas, 23 anos, Aline Lima, 22 anos, e Carolina Cadaval, 21 anos, era mostrar, por meio de cores e formas, que o veículo era brasileiro, carioca e sustentável. O resultado foi um ônibus verde, remetendo à natureza e ao Brasil, com linhas brancas associadas à ideia de tecnologia, que tomam a forma do Pão de Açúcar, um dos principais cartões postais do Rio.
(Por Juliana Bublitz, Zero Hora, 01/07/2010)