O mundo deveria reduzir impostos sobre renda e serviços e taxar o consumo excessivo da população dos países ricos, e da parcela rica dos países emergentes.
Essa é a solução proposta pelo ambientalista Christopher Flavin, presidente do Worldwatch Institute, para reduzir a "escalada de consumismo" que impede que a humanidade se "equilibre com a natureza".
A ONG lança hoje o "Estado do Mundo", publicação anual que já foi considerada a Bíblia do ambientalismo.
Publicada desde 1984, a série tem se notabilizado por antecipar o debate ambiental. Já em 2001, por exemplo, falava em "descarbonização da economia", bem antes que o termo virasse moda.
Na edição deste ano, o "Estado do Mundo" trata de como transformar a cultura e o consumo, abordando desde a publicidade até a mídia.
De seu escritório em Washington, Flavin falou à Folha. O livro pode ser baixado gratuitamente na internet (www.worldwatch.org.br).
Folha - Toda vez que os ambientalistas abordam o tema cultura, eles não conseguem ir além do clichê do consumo insustentável. Como vocês esperam fazer diferente?
Christopher Flavin - A chave não está apenas em identificar isso como um fator, mas sim em mudar a cultura de uma forma que faça diferença. E o que é empolgante neste livro este ano é que nós identificamos uma série de iniciativas de sucesso. Um exemplo é a Interface, uma empresa produtora de tapetes e carpetes nos EUA, que há 15 ou 20 anos realmente abraçou a sustentabilidade na cultura corporativa e mudou o seu sistema de valores. Ela acabou tendo muito sucesso economicamente.
Como o sr. espera entregar uma mensagem de menos consumo em sociedades como o Brasil, que tem 20 milhões de pessoas que acabam de sair da pobreza?
Embora haja uma quantidade enorme de pessoas no Brasil que compreensivelmente querem aumentar seu consumo, há também muitas pessoas que vivem tão bem quanto ou melhor que muita gente na Europa e nos EUA. Vocês têm a oportunidade de pular alguns dos padrões mais destrutivos de consumo que atravessamos nos EUA nas últimas décadas.
É possível produzir mudanças culturais apenas com incentivos positivos? Até agora, impostos ainda parecem ser a melhor solução...
É claro que você precisa de impostos para financiar operações do governo e, sendo este o caso, acho que faz sentido mudar alguns desses impostos sobre coisas como renda e serviços e redirecioná-los para consumo ou emissões de carbono. Precisamos ter uma certa quantidade de impostos para ter uma sociedade que funcione, a questão é o que taxar. E podemos ajudar esse processo ao direcionar impostos de forma a desencorajar o consumo material que causa a maioria desses problemas.
(Folha.com, 30/06/2010)