Na vanguarda do setor energético, o CE continua sendo vedete pelo que se configura para o próximo leilão de eólica
O Ceará terá 106 projetos cadastrados nos dois próximos leilões de eólica do País, que acontecerão nos dias 18 e 19 de agosto, nas respectivas modalidades de reserva e fontes alternativas.
É, praticamente, um terço do total da região Nordeste, com 312 inscrições; e 26,5% do total de todas as unidades federativas juntas, que apresentarão 399 projetos.
Assim como aconteceu no primeiro leilão de eólica do País, realizado em dezembro do ano passado, mais uma vez, o Estado é o segundo com maior número de propostas, atrás apenas do Rio Grande do Norte, que, neste ano, terá 133 projetos inscritos.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Pedro Perreli, o Ceará apresenta todas as condições, inclusive, geográficas, para se manter como o maior parque eólico instalado do Brasil, com capacidade instalada, em 2009, de 310,25 MW, e tendência para continuar na vanguarda do desenvolvimento eólico nacional.
"O Estado está criando a infraestrutura necessária para atrair fabricantes e produtores para atender esse crescimento. Aqui, há dois portos importantes, um aeroporto internacional e locais próximos a Sobral e Crato, com uma ligação rodoviária importante", afirma Perreli.
Leilão anterior
Em 2009, foram adquiridos 21 projetos cearenses, que compraram a concessão de fornecimento de 542 MW de energia eólica de reserva. Naquele primeiro leilão, apenas o Rio Grande do Norte ficou à frente do Ceará, com a quantidade de 23 projetos, que somavam 657 MW. Bahia, Rio Grande do Sul e Sergipe ficaram logo atrás.
"Para este ano, dois outros estados: Pernambuco e Piauí também estarão disponibilizando projetos. Em 2011, esperamos que Minas Gerias também participe", diz Perreli, ressaltando que um número cada vez maior de unidades federativas e da iniciativa privada está acreditando no segmento.
"Há cinco anos, tínhamos apenas uma nova fabricante, contra seis de hoje. Praticamente, uma nova fabricante por ano", completa o executivo.
Demanda crescente
Na opinião do diretor executivo da Abeeólica, o crescimento da economia brasileira também colabora para o interesse dos investimentos em outras fontes de energia.
"Há poucos anos, o Brasil estava acostumado com a estagnação. Não crescia. Quando conseguia, era por ali, próximo do zero ponto percentual. Para 1% do crescimento da economia é necessário ampliar a matriz energética entre 1,3% e 1,5%", comenta Perreli, assinalando que o último crescimento de 9%, recentemente divulgado, apresenta a importância do setor acompanhar o fortalecimento econômico do País.
Complementar
Conforme Perreli, a energia oriunda das hidrelétricas continua sendo a alternativa principal do Brasil e mais barata, também, contudo, na visão dele, pode ser complementada pela produção eólica, de menor impacto ambiental e não poluente, além de preservar o nível dos reservatórios nacionais dentro dos padrões de segurança para atender a demanda que aumenta a cada dia. "Uma das razões para se investir no setor eólico é a recuperação do nível dos reservatórios, estabilizando o nível de água, sem criar impactos ambientais", pontua.
IMPACTO NA PONTA
Corte de impostos é demanda do setor
Carga tributária no setor eólico significa impacto de até 30,2% no total dos investimentos de um parque
É preciso reduzir os impostos para impulsionar o desenvolvimento da indústria eólica brasileira. Esse é o ponto de vista defendido pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Segundo a entidade, a carga tributária representa uma parcela entre 25,7% e 30,2% do total de investimentos de um parque eólico.
"Se diminuirmos os tributos, reduziremos em até 36% o valor da energia eólica na fonte e, aproximadamente, 26% na ponta", revela o diretor executivo da Abeeólica, Pedro Perreli.
Na opinião dele, o governo deve reproduzir regimes especiais tributários que funcionaram para alguns setores da atividade econômica, em outros momentos. "A indústria naval foi ressuscitada, graças ao REB (Registro Especial Brasileiro), o pré-sal só foi descoberto por causa do Repetro. Dois de vários estímulos fiscais que impulsionaram ambas as áreas", destaca Perreli, salientando a criação do Renovento (Regime Especial de Tributação para Incentivo ao Desenvolvimento da Indústria Eólica Nacional, que aplicaria reduções em uma série de impostos aplicados nos investimentos de parques eólicos, implantação da indústria e na cadeia produtiva.
Conforme o executivo, os efeitos positivos seriam a instalação de novas indústrias de aerogeradores no País, desenvolvendo a competitividade do setor e o fortalecimento da base de exportação. Quanto à distribuição da energia eólica, Perreli disse que, atualmente, o sistema interligado nacional que centraliza a operação.
"O País tem de mudar para um modo descentralizado na geração da energia, aproveitando, inclusive, áreas de pequena ocupação humana para melhorar a distribuição. Além disso, é necessário fazer um novo marco de energia, porque o que existe já tem12 anos, e está defasado", complementa. (ISJ)
(Diário do Nordeste, 30/06/2010)