O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Gonçalves, disse no dia 25/6, que não pretende suspender as obras de construção da Usina Nuclear Angra 3, conforme recomendação do Ministério Público Federal (MPF) em Angra dos Reis.
“A gente não vai suspender [a obra]. A gente vai recorrer, obviamente”, disse em entrevista à Agência Brasil. Segundo Gonçalves, a apresentação de uma análise probabilística de segurança e acidentes severos do empreendimento constitui apenas uma sugestão da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), e não uma recomendação obrigatória, como teria entendido o MPF em Angra.
“A tradução foi malfeita. Ela [Aiea] não diz que é para fazer ou que [a análise] é fundamental. Ela simplesmente sugere que se faça isso”. Ele explicou que como já existem cálculos para outras usinas, a Cnen tem plena clareza dessa questão. “Então, nós vamos entrar com recurso contra isso”.
A Cnen vai responder ao Ministério Público. “A gente tem que explicar, faz parte da transparência. Mas, a gente absolutamente não concorda com isso”, disse.
Odair Gonçalves confirmou ter autorizado a realização de estudo probabilístico de segurança e acidentes severos de Angra 3, que está sendo conduzido pela Eletronuclear. O presidente da Cnen esclareceu, contudo, que “isso não impacta a construção da usina. A obra continua, sem dúvida nenhuma”.
Secretário de Angra considera correto o pedido de suspensão das obras de Angra 3
O secretário do Meio Ambiente de Angra dos Reis, Marco Aurélio Vargas, considerou “corretíssima” a atitude do Ministério Público Federal (MPF) de recomendar a suspensão das obras e da licença da Usina Nuclear Angra 3 até que seja apresentada a análise probabilística de segurança e acidentes severos relacionada ao projeto. A recomendação foi encaminhada na noite de 24/6 pelo MPF à Eletronuclear e à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem). “Eu acho que o Ministério Público está corretíssimo em entender que todos os dados disponíveis são importantes para viabilizar toda essa questão, na maior segurança necessária”, disse o secretário.
Vargas salientou, no dia 25/6, em entrevista à Agência Brasil, que o governo municipal não está preocupado em medir impactos socioeconômicos para a cidade. “Nós estamos preocupados, sim, com a nossa segurança e, em paralelo, com a parte social da cidade. Que não venha a acontecer novamente em Angra dos Reis o que aconteceu ao longo da década de 70, até o término da unidade 2 [Angra 2], que é a pobreza do nosso município”.
A construção e a administração das duas primeiras usinas nucleares brasileiras (Angra 1 e 2) foram de competência de Furnas até a criação da estatal Eletronuclear, em 1997. O secretário municipal afirmou que Furnas não se preocupou em atender a população de Angra. “Furnas, à época, estava preocupada apenas em dar atenção devida aos trabalhadores e visitantes no entorno da central nuclear, fazendo a implantação de vilas residenciais, com toda a infraestrutura que nós não tínhamos [no município]”.
Com a construção de Angra 3, Vargas espera que a Eletronuclear tenha como princípio básico atender à demanda da população local. Na avaliação dele, uma possível suspensão das obras de construção da usina não terá impacto na oferta de empregos no município, uma vez que a obra ainda não avançou. “Não está no pico, está na fase de implantação. Então, não traz prejuízos”.
(Agência Brasil, EcoDebate, 28/06/2010)