Nunca vou esquecer de uma palestra proferida pelo doutor Walmor Alves Moreira, procurador do Ministério Público Federal de Santa Catarina, na qual ele disse que a incúria, o despreparo e a ignorância dos prefeitos e vereadores são os maiores responsáveis pela degradação ambiental.
A cada dia, esta verdade se comprova!
Imbituba-SC – a capital nacional da baleia franca – vai receber uma fábrica da Votorantim, que produzirá 1,2 milhões de toneladas/ano de cimento. Com as bênçãos do governador, prefeito, vereadores, … O circo está completo: alteraram o plano diretor do município; o protocolo de benesses à fábrica foi assinado pelo governador1.
Mas acho que poucos moradores da região sabem o que os espera com a construção dessa ‘Moagem Imbituba’. Pelo nome, parece que se trata de uma indústria de moagem (misturador) que produzirá matéria-prima para a fabricação de cimento em outras cidades da região sul.
Será que não irão produzir o cimento propriamente dito?
Tenho cá minhas dúvidas! A gente precisa saber o que vai acontecer dentro das 4 paredes da Votorantim. Alguém sabe se existe jazidas de calcáreo na região de Imbituba? Essa gente não é burra: só será economicamente viável moer calcáreo se houver uma jazida próxima para otimizar o transporte, não é?
O processo de produção de cimento consiste em moer o calcáreo, misturá-lo com argila, queimá-lo no forno e, finalmente, moer tudo isso até virar cimento.
E aí está o grande problema: os fornos das cimenteiras são, hoje, grandes incineradoras de lixo industrial. Com licença do governo porque se trata de ‘co-processamento’, uma das tantas mentiras verdes do desenvolvimento sustentável. Quem não acredita, pode fazer uma busca no ‘google’.
Rio de Janeiro e Paraná reclamam que São Paulo exporta seu lixo industrial pras cimenteiras que albergam.
E aí, o lixo é usado como combustível, como matéria-prima para o cimento. Todo lixo é bem-vindo! Vejam este depoimento: “Ao lado dos pneus, são depositados nos fornos o material conhecido como “lodo” (fezes humanas) e o poluente carvão mineral”2.
A indústria ceramista – pra fugir de sua obrigação de tratar e dar destinação correta ao seu resíduo – vive dizendo que entrega seu lodo de cerâmica pras cimenteiras. Claro, é bem mais barato!
Mas o mais ‘verde’ é queimar pneu usado. É uma festança! Pra evitar mosquito da dengue.
E a Votorantim Cimentos ‘co-processa’ metade de tudo que é processado no Brasil1. Em 2007, ela queimou cerca de 400 mil toneladas, metade do volume médio co-processado no Brasil, que é de 800 mil toneladas. Isso é 30% do total de lixo industrial produzido (oficialmente, claro), por ano, aqui3.
Gente, lixo industrial queimado é cangerígeno! Não tem filtro que segure!
Se os governantes não sabem disso. E estão pagando pra Votorantim vir pra terra da Baleia Franca, é hora dos governados abrirem os olhos e os ouvidos… E dizerem NÃO a mais este mega empreendimento poluente, que vai socializar a degradação ambiental em Santa Catarina.
A corrida contra a Votorantim tem que começar agora! Avisem aos vizinhos!
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, presidente do Instituto Eco&Ação, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.
(EcoDebate, 28/06/2010)