Quando um suculento pedaço de carne chega à mesa de um restaurante espanhol, dificilmente o cliente vai frear o impulso de se atracar ao quitute e parar para pensar em toda a cadeia produtiva por trás dele. Certamente, também não estará disponível no menu da casa o caminho percorrido por cada filé servido.
É difícil imaginar de que forma esse europeu pode garantir que o seu almoço não é produto do desmatamento da Floresta Amazônica. E não são poucas as chances de que seja.
De acordo com dados da organização britânica Forest Footprint Disclosure (FFD), mais de 30% da produção de soja do Brasil é comprada pela Europa, e boa parte dela alimenta a pecuária do Velho Continente. Se o produtor dessa soja não estiver de olho na forma como seus negócios impactam a floresta, o filé no prato do restaurante espanhol vira um vilão do desmatamento.
Para auxiliar empresas do mundo todo a descobrirem os efeitos de suas operações e de sua cadeia produtiva nas florestas, foi criado o Projeto FFD. Por meio dele, as empresas são convidadas a responder a um questionário a respeito de suas práticas em gestão florestal. As respostas são, então, transformadas em um relatório. A ideia é que, assim, empresários e investidores possam identificar mais facilmente a pegada florestal de cada organização.
Para Tracey Campbell, diretora do Forest Footprint Disclosure, ao responderem as perguntas, as empresas têm mais condições de identificar como e onde o desmatamento pode ser reduzido. Além disso, passam a ter mais consciência do impacto financeiro que a má gestão ambiental pode causar.
– Os investidores têm apresentado interesse crescente em como as empresas têm gerenciado seus riscos ambientais e muitas vezes tomam a preparação neste setor como um sinal da qualidade de gestão em outras áreas – afirma.
No início de junho, a equipe da FFD se uniu ao Grupo Santander e à organização Amigos da Terra, em São Paulo, para lançar a segunda edição do Questionário do Forest Footprint Disclosure, realizado pelo Global Canopy Programme. Por meio dele, as empresas convidadas informarão como administram sua exposição aos riscos reputacionais e operacionais ligados ao desmatamento.
Atualmente, são 38 investidores com US$ 4,2 trilhões em bens apoiando o FFD e interessados nas empresas comprometidas com a sustentabilidade.
A partir do relatório, os fundos de investimento têm mais fundamentos para repensar os riscos relacionados ao tema florestal e até modificar os seus investimentos.
L’Oreal, Marks & Spencer, Weyerhaeuser, Fibria e Independência SA são algumas das empresas que responderam ao questionário no ano passado.
(Zero Hora, 28/06/2010)