Ao que tudo indica, caiu por terra a proposta da presidência da CIB (Comissão Internacional da Baleia) para retomar de forma limitada a atividade baleeira comercial nos próximos dez anos.
Depois de dois dias de negociações sigilosas entre nações que defendem a conservação de baleias e países que já caçam ou pretendem caçá-las, o único consenso na sessão plenária da CIB ocorrida ontem em Agadir, Marrocos, é que não há consenso.
"Acho que é hora de deixar de lado esse documento", disse às demais delegações o ministro Fábio Vaz Pitaluga, do Itamaraty, negociador do Brasil na CIB.
"Não era possível continuar trabalhando com ele, embora algumas coisas do texto talvez possam ser aproveitadas", declarou à Folha.
A posição brasileira se alinha com a da Austrália, que afirmou que o melhor era deixar a proposta para trás.
Ao lado do Brasil também ficaram Argentina, Uruguai, Chile e outros países latino-americanos, que adotam posição conservacionista.
"Coisas estranhas às vezes acontecem em negociações internacionais, mas acho difícil que essa proposta seja retomada nesta reunião", afirmou Pitaluga.
O ministro australiano do Ambiente, Peter Garrett, ressaltou que a decisão de engavetar o documento "não era o fim do mundo".
"Não acho que a CIB tenha se tornado disfuncional", disse Garrett, em direta contradição com o que havia dito à imprensa sobre a "disfuncionalidade" da comissão.
A proposta rejeitada teve o patrocínio dos diplomatas Cristián Maquieira, do Chile, e Anthony Liverpool, de Antígua e Barbuda, respectivamente presidente e vice da CIB. Segundo o texto, o abate dos grandes cetáceos seria permitido ao longo da próxima década, embora com cotas de captura menores do que as praticadas hoje.
Nações baleeiras, além disso, teriam de se submeter ao monitoramento internacional de suas atividades.
As falas na plenária pareciam seguir um script que é velho conhecido dos veteranos de reuniões da CIB.
O Japão, principal país baleeiro, argumentou que os membros da comissão deveriam "respeitar os dados levantados pelo comitê científico da CIB" os quais "tornavam possível a atividade baleeira sustentável".
DECLÍNIO
Curiosamente, contudo, o relatório do comitê científico, apresentado na mesma tarde, mostrou um declínio nas populações de baleias minkes da Antártida, principal alvo dos japoneses.
Os únicos não-baleeiros a apoiar publicamente o Japão foram os países-ilhas do Caribe e do Pacífico, bem como a Tanzânia. Há denúncias de que o Japão arrebanha o apoio dessas nações em troca de ajuda financeira.
Os caribenhos St. Kitts e Nevis e Santa Lúcia argumentaram que o uso das baleias era uma questão de segurança alimentar e desenvolvimento econômico para nações pobres. No entanto, para o próprio Japão, a caça hoje é subsidiada.
(Folha.com, 24/06/2010)