Interessada em se instalar nas bacias de Campos e do Parnaíba, British Petroleum é responsável direta pelo maior desastre ambiental na História dos EUA, onde vazam milhares de barris de petróleo desde o dia 20 de abril deste ano.
Pois então, é assim: enquanto a Jabulani corre faceira pelos gramados da África do Sul nesta Copa do Mundo de Futebol de 2010, notícias das mais surpreendentes aparecem assim de mansinho. E quase passam despercebidas. Um exemplo ignorado pela grande mídia impressa gaúcha: a agência de notícias Reuters, dia 16 deste mês, envia telegrama desde Londres.
E o que diz, de algum interesse para gaúchos e brasileiros? Era, apenas, a confirmação de um negócio no valor de sete bilhões de dólares entre a British Petroleum (BP) e a empresa petroleira norte-americana Devon Energy. Pelo acordo, a BP compraria ativos da Devon e iria explorar blocos de petróleo no Brasil. Mais especificamente: nas bacias de Campos e do Parnaíba.
Ora, todos sabemos: esta BP é a responsável direta pelo maior desastre ambiental na História dos EUA, onde vazam milhares de barris de petróleo desde o dia 20 de abril deste ano, atingindo uma vasta área do litoral do Golfo do México com a morte da vida marinha e o desemprego forçado de milhares de pescadores norte-americanos.
Em seu despacho, a Reuters cita a fonte. É o jornal londrino The Times, edição de 16 de Junho. E acrescenta a notícia: a Agência Nacional de Petróleo – que concede no Brasil as licenças e também monitora a segurança na indústria petrolífera – ainda não aprovou a transação BP-Devon.
O The Times adianta: um porta-voz da BP, consultado, disse: “Até onde sabemos, o acordo está avançado. E temos motivos para acreditar que será realizado”.
Mas, até esta data, quase uma semana depois do telegrama da Reuters, nada saiu desta informação relevante na mídia impressa do Rio Grande do Sul.
Aliás, o desastre ambiental nos EUA até aqui poderia parecer algo distante, a milhares de quilômetros de distância do Brasil.
Mas, e agora? Quando a BP anuncia sua pretensão de se instalar no nosso litoral? E quando o negócio está bem avançado e quase consolidado? Por quê o silêncio? (Ver o texto: Em Campos (RJ), vazamento é controlado. Mídia gaúcha ignora incidente, EcoAgência, dia 09 de Junho de 2010).
Brasil começa a se movimentar no caso BP
A diretora da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Magda Maria Chambriard, visitou sábado, dia 19 de Junho, no Texas, o Centro de Controle montado para monitorar o desastre no Golfo. Desejava conhecer de perto o trabalho de contenção do vazamento do óleo e outros detalhes. Magda Maria disse que, “no futuro”, a ANP pretende adotar no Brasil novas regras para explorar petróelo em águas profundas – como as do pré-sal. Até por que, disse, a tragédia da maré negra não diz respeito apenas à BP e sim a toda a indústria petroleira global.
Ela também disse que a ANP tem aprendido muito com acidentes no Brasil - como a explosão em 2001 da plataforma P-36 na Bacia de Campos. Mas foi bem clara: a compra de ativos de exploração de petróleo pela BP por aqui não poderá ser fechada sem a aprovação da ANP. E ainda não houve a necessária anuência da agência brasileira.
E como vai a saúde financeira da BP?
Só que... antes de pensar neste negócio que permitirìa à BP explorar poços de petróleo no Brasil, além do OK da ANP, a petroleira britânica enfrenta muitas dificuldades na área financeira.
Assim, ela pretende levantar 50 bilhões de dólares para cobrir as despesas com o atual vazamento nos EUA. Segundo o jornal The Sunday Times do dia 20 de Junho, a soma seria assim: venda de ativos da BP por 20 bilhões de dólares; mais 20 bi em empréstimos bancários; e a venda de mais 10 bi em títulos.
Só que ...a BP revelou que seus esforços para conter o vazamento, no dia 10 de Junho, já alcançavam a quantia de um bilhão e 430 milhões de dólares, enquanto o valor de suas ações despencam no mercado de Wall Street.
E só que ... nos últimos dias , três agências de classificação de riscos – a Moody’s; a Standard & Poor’s; e a Fitch – já rebaixaram em três níveis a nota da dívida a longo prazo da BP. E justamente por causa da atual maré negra no litoral dos EUA.
E o Plano Nacional de Contingências do Brasil sai quando?
Ora, o professor doutor Luiz Henrique de Figueiredo, PhD em Química Ambiental, já havia alertado para um fato importante: o Brasil ainda não conta com um Plano Nacional de Contingências capaz de prevenir e controlar algum desastre semelhante ao que está ocorrendo lá nos EUA. Seu alerta foi durante o recente Congresso Brasileiro de Oceanografia, nas dependências da FURG na cidade marítima de Rio Grande (RS). (Leia as notícias na EcoAgência: “Brasil: vazamento de petróleo no litoral preocupa”, dia 26 de Maio de 2010, e também “Acidente no Golfo do México acelera Plano de Contingências do Brasil”, dia 28 de Maio de 2010).
Na coluna Do Leitor, Zero Hora do dia 16 de Junho, sob título ALERTA, o engenheiro Paulo Mazeron escreveu: “As dificuldades para conter o terrível vazamento de petróleo no Golfo do México a 1.500 metros de profundidade, com toda a tecnologia disponível, deveriam servir de alerta à turma do oba-oba com nosso petróleo do pré-sal, que se encontra a 7 mil metros de profundidade”.
E na mídia impressa gaúcha desta segunda-feira, 21 de Junho, apenas uma breve notícia sobre tudo o que está aí em cima: “Diversão em Plena Crise”, sobre a presença de um executivo da BP em uma regata de veleiros no litoral da Grã-Bretanha. Esse executivo é o encarregado de controlar o vazamento.
Convenhamos: é pouco. Mas é bem assim, enquanto a Jabulani corre faceira nos gramados sul-africanos...
(EcoAgência, 23/06/2010)