Por enquanto, saíram pela culatra as tentativas de quebrar o impasse que domina a reunião anual da CIB (Comissão Internacional da Baleia). Os ambientalistas foram excluídos de rodadas confidenciais de negociação entre os países conservacionistas e os que querem caçar baleias, o que causou protestos.
As discussões a portas fechadas começaram ontem, primeiro dia da reunião da CIB em Agadir (Marrocos).
Elas são iniciativa do vice-presidente da comissão, Anthony Liverpool. Com o presidente, o chileno Cristián Maquieira, que alegou razões de saúde para não estar no evento, ele é autor de uma polêmica proposta para liberar a caça comercial.
A proposta permitiria o abate dos cetáceos ao longo dos próximos dez anos, embora com cotas de captura menores do que as praticadas atualmente pelos países baleeiros. Eles teriam de se submeter ao monitoramento de suas atividades.
No entanto, as conversas não só foram insuficientes para dar mais peso à proposta como parecem ter aberto uma caixa de Pandora.
A Coreia do Sul, por exemplo, afirmou ter interesse em retomar atividades baleeiras, a exemplo do que Islândia, Noruega e Japão (este sob a alegação de "caça científica", embora a carne seja consumida) já fazem.
Em busca de peso político, o Japão tem sido acusado de comprar o voto de países da África ou de nações insulares com ajuda econômica. A própria nação de Liverpool, a caribenha Antígua e Barbuda, tem acordo de cooperação pesqueira com os japoneses.
O combinado é que as conversas sigilosas continuem hoje. "O mais provável é que Liverpool esteja usando isso como uma tentativa de salvar ao menos algo do acordo, porque, do jeito que as coisas estavam caminhando, nenhuma decisão seria aprovada", diz a bióloga brasileira Márcia Engel, do Instituto Baleia Jubarte. Ela, porém, diz duvidar isso dê certo.
PROPOSITIVAS
ONGs também divulgaram sua posição sobre a proposta da presidência da CIB.
Greenpeace, Pew Charitable Trust e WWF afirmam que a ideia de permitir e regular a captura comercial poderia se tornar aceitável caso, por exemplo, fosse totalmente barrada a caça de espécies ameaçadas de extinção e ficasse proibida a venda internacional de produtos derivados de baleias.
O trio de ONGs também considera inegociável a proibição de captura no oceano Austral, principal local de alimentação das baleias.
(Folha.com, 23/06/2010)