Uma chuva diluviana que se prolonga desde o início da semana passada submergiu até povoados. Rios transbordantes derrubaram casas, prédios e pontes, numa sequência de dominó e com fúria incontrolável. Famílias clamam por socorro.
Cães farejadores buscam cadáveres encobertos por monturos. Pernambuco e Alagoas contam seus mortos, desalojados e desaparecidos.
A água que sempre faltou ao Nordeste tornou-se um flagelo de proporções incalculáveis com as últimas chuvaradas. Bombeiros descrevem um cenário de tsunami, tamanha a destruição. Ontem, o governo federal anunciou a liberação de R$ 100 milhões para Alagoas e Pernambuco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que não faltará dinheiro às vítimas.
– A situação é muito grave – declarou a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra.
Em decorrência dos temporais, cidades alagoanas e pernambucanas estão sem água e energia elétrica desde o final de semana. Estradas foram interditadas, com os alagamentos e as quedas de pontes, o que deve dificultar o envio de ajuda às populações mais isoladas.
Em meio à destruição, jovem grávida perde bebê
O drama da jovem Severina levado ao ar ontem pelo Jornal Nacional comoveu a população de Santana do Mundaú, em Alagoas, um dos locais mais atingidos pela tragédia. As águas do Rio Mundaú levaram ao chão lanchonetes, lojas e agências bancárias. Para atravessar uma ponte, é necessário subir uma escada, por onde Severina foi transportada por dezenas de voluntários, já em trabalho de parto de seu primeiro filho. Ela teve de ser levada para Maceió porque a maternidade da cidade também foi destruída pela fúria do clima. Apesar da corrente de solidariedade para colocá-la em uma ambulância, a jovem acabou perdendo o bebê.
Outros municípios alagoanos vivem situação semelhante. Em União dos Palmares, de 62 mil habitantes, cerca de 500 pessoas estavam desaparecidas até ontem. Não havia informações se estavam a salvo, em casas de parentes ou se tinham morrido. Escolas foram transformadas em abrigos, famílias dividiam espaços delimitados por sucata e carteiras escolares. Sobre colchões, crianças e cães dormiam juntos.
– Perdi tudo de uma hora para outra. A água veio rápido, derrubando casa por casa – disse o servente de pedreiro Nelito Ribeiro de Sousa, 32 anos.
Em Branquinha, de 12 mil moradores, o nível do rio subiu pelo menos cinco metros e levou o que havia nas margens. A lama cobriu as ruas, o asfalto soltou-se. Árvores e postes foram arrancados.
Alarmada, a médica Angela Auto teme que as águas infectadas causem um surto de leptospirose.
(Zero Hora, 23/06/2010)