Na busca de melhorar sua imagem e atrair cada vez mais visitantes, o Centro Histórico de Porto Alegre tem recebido investimentos do setor público e privado. Os camelôs foram retirados das ruas e ganharam espaço próprio para desempenhar suas atividades com conforto e dignidade. Prédios antigos estão sendo restaurados e a Praça da Alfândega ganha novos contornos através de um projeto de restauração que inclui a recuperação dos espaços públicos do Porto e da Avenida Sepúlveda, resgatando passeios e calçamentos originais, embelezando canteiros e valorizando monumentos com iluminação cênica.
No entanto, moradores da área central da capital reivindicam mais atenção com outros espaços considerados relevantes pela sua história, localização estratégica e papel que desempenham junto à comunidade, como é o caso da Praça Brigadeiro Sampaio, entre a Rua dos Andradas, General Portinho e Avenida João Goulart. As reivindicações de melhorias ocorrem, curiosamente, no ano em que se comemoram os 200 anos de nascimento do Brigadeiro Antônio de Sampaio, com exposição em sua homenagem ainda em cartaz no Museu Militar do Comando Militar do Sul, na Andradas 630.
Um rápido passeio é suficiente para perceber as deficiências e entender as queixas dos moradores. Dificuldades também são observadas e apontadas por visitantes como a santoangelense Marinita Colovini, que esteve na capital visitando a filha, moradora do bairro Bela Vista. Caminhando pela Praça Brigadeiro Sampaio em direção à Usina do Gasômetro, Marinita desabafa: “A Praça não tem identificação. Existe uma pedra lá no início, onde, acredito, havia uma placa que não existe mais. Resolvemos vir até este monumento (aponta para o monumento em homenagem a Brigadeiro Sampaio) para fotografar, mas o mesmo também não tem identificação. Então, fica difícil levar uma foto de lembrança e não poder explicar em que lugar foi feita nem o que a mesma representa”. Moradores reclamam ainda dos taxistas do ponto da esquina da Rua dos Andradas com a Rua General Portinho, que transformaram em banheiro público o tronco de uma grande ficus elastica (falsa figueira): “Tem dias que não dá pra aguentar o mau cheiro, e se você chegar perto da árvore vai ver que o tronco está corroído de tanta urina. Nos dias de sol, a gente gostava de levar as crianças ali perto pra brincar, mas agora preferimos ficar do lado de cá, bem longe”, desabafa uma moradora, que prefere não ser identificada.
A assessora de condomínio Greice Farina, 47 anos, nascida e criada no centro, reclama da falta de investimentos no local: “Li na imprensa que a Praça Jornal do Comércio, no bairro Santo Antônio, recebeu investimentos de aproximadamente R$ 243 mil, recursos do termo de compensação vegetal firmado pela Gafisa e Ivo Rizzo Empreendimentos Imobiliários. Como cidadã, devo elogiar iniciativas como esta e parabenizar as empresas parceiras. Mas, não entendo por que um espaço como a Brigadeiro Sampaio, em pleno Centro Histórico, e passagem obrigatória de turistas, não tem prioridade de investimentos”.
Mesmo com um zelador que cuida da limpeza diariamente e tendo recebido melhorias na iluminação recentemente, o reconhecido fotógrafo e paisagista Paulo Backes, morador da General Portinho, indica outros problemas que deveriam ser resolvidos na Praça Brigadeiro Sampaio. Para ele, os caminhos de pedras, daquilo que já foi um projeto paisagístico, precisam ser recuperados, pois sofreram com o desgaste natural e com a ação do tempo e de vândalos. Backes identifica ainda espécies exóticas, como um ligustro e sinamomos, que estão comprometidas com erva-de-passarinho, precisando de manejo urgente. Já a professora Ilda Meregalli, moradora da região desde 2003, considera que são três os problemas fundamentais a serem resolvidos para melhorar o ambiente do local. Como gosta de fazer caminhadas, diz que é difícil se exercitar na praça, que não dispõe de calçadas no seu entorno. Ilda reclama daqueles que não juntam os resíduos de seus animais de estimação e da sujeira deixada pelos moradores, que nos finais de semana transformam a praça em um verdadeiro camping, com mesas, cadeiras, churrasqueiras e até aparelhos de som e televisão. Gostaria de saber da Secretaria Municipal do Meio Ambiente se este tipo de atividade nas praças é permitido? Indaga a professora.
“O turista fica impressionado com a Praça da Alfândega, caminha poucas quadras em direção à Usina do Gasômetro, e encontra as Praças Brigadeiro Sampaio e Júlio Mesquita com pouco investimento em paisagismo e infra-estrutura”, afirma Jacqueline Sanchotene, moradora da Rua General Salustiano e coordenadora do Movimento Viva Gasômetro, que luta por melhorias na região e promove atividades sociais e culturais gratuitas na Praça Júlio Mesquita, mais conhecida como a Praça do Aeromóvel. “O Centro Histórico de Porto Alegre recebe investimentos pontuais e isolados, mas, para se tornar referencial turístico nacionalmente, é preciso olhar para o todo. A Rua dos Andradas é um corredor cultural que atrai visitantes em toda sua extensão, por isso, é preciso fazer um resgate histórico, tratando com igualdade toda a região”, conclui Jacqueline.
(Por Christian Lavich Goldschmidt, EcoAgência, 21/06/2010)