A população que vive no entorno da ex-Aracruz Celulose (Fibria) está assustada e buscando informações sobre o esvaziamento de funcionários das três indústrias de celulose da transnacional, em Aracruz. Sobre a ação, a comunidade foi informada apenas de uma falta repentina de energia que resultou no fim do dia de trabalho. Entretanto, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Papeleiros do Estado(Sinticel), houve vazamento de gases tóxicos na empresa, o qual durou das 15h desta quinta (17) às duas da manhã desta sexta-feira (18), quando o sistema de energia foi parcialmente restabelecido.
Segundo o diretor de formação do Sinticel, Aloir Rodrigues da Conceição, o problema foi gerado por uma falha técnica no sistema da caldeira de recuperação da fábrica. A falha, segundo ele, teria gerado um blackout dos geradores que passaram a se desligar em cadeia nas três fábricas de celulose da Fibria.
“Ao perder energia, os gases vazaram. Os trabalhadores poderiam ser intoxicados, até porque vazou gases de cloro industrial feitos pra limpar celulose, de sufídrico e mercaptano. Por volta das 15h30 os funcionários começaram a ser liberados e só ficaram os trabalhadores terceirizados do turno, na tentativa de recuperar o sistema”, explicou ele.
O esvaziamento da indústria de celulose gerou apreensão entre os moradores do entorno. Segundo Herval Nogueira Júnior, diretor ambiental da Associação dos Amigos da Barra do Riacho, ao ver os trabalhadores enchendo às pressas os ônibus de Ibiraçu, João Neiva e outras localidades, a comunidade se sentiu ameaçada.
“Não deram informações aos moradores da Barra do Riacho, nem Barra do Sahy, que sofre mais quando o vento é nordeste, e nem à aldeia de Pau Brasil que também faz parte do entorno da fábrica. Ninguém sabia de nada a respeito mesmo questionando os funcionários”, disse ele.
Neste contexto, Heval Nogueira chegou a denunciar o fato de o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) registrada com RR 401/2010. Segundo o ele, o órgão informou apenas que houve um problema técnico na caldeira da fábrica, gerando a queda de energia.
A prefeitura e a Secretaria de Meio Ambiente de Aracruz também foram procuradas pelo diretor ambiental da Associação Amigos da Barra do Riacho. Entretanto, nada foi informado. “O técnico chegou a me falar que não era nada porque ele havia conversado com um morador da Barra do Sahy e lá também não sabem de nada”, reclamou Herval Nogueira.
Entre os gases emitidos durante o problema técnico da fábrica da ex-Aracruz Celulose (Fibria) está o ácido sulfúrico, ou sulfeto de hidrogênio, conhecido pelos moradores da região devido ao forte odor, comum na região. Solúvel em água e etanol, é um composto corrosivo e venenoso.
Assim como o cloro utilizado para limpar a celulose que também vazou na fábrica, o gás mercaptano também pode causar náuseas, dores de cabeça, võmito, entre outras irritações sobre o organismo das pessoas atingidas.
“Não conheço a dimensão do problema e, portanto, fica difícil falar. Mas se o gás pode atingir o trabalhador, pode atingir também os moradores da região”, disse o diretor de formação do Sinticel, Aloir Conceição.
Segundo ele, os trabalhadores da ex-Aracruz Celulose tentaram sem sucesso retomar o sistema de energia da empresa. As 2h da manhã desta sexta-feira (18), a energia voltou parcialmente e só as 8h retornou de forma integral.
O Iema foi procurado para explicar o ocorrido, mas até o fechamento desta edição nada foi dito.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 20/06/2010)