O surgimento de novos dados oficiais sobre o desmatamento dos biomas brasileiros revela que a devastação no cerrado e no Pantanal foi proporcionalmente superior às perdas de vegetação na Amazônia, levando-se em conta a extensão dos biomas e as áreas desmatadas entre 2002 e 2008.
Enquanto todas as atenções do governo estavam voltadas para o território amazônico, que ocupa cerca de metade do solo brasileiro, o cerrado e o Pantanal perderam 89,3 mil quilômetros quadrados de mata nativa, o e quivalente a mais de 15 áreas do tamanho do Distrito Federal (DF). O Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou na semana passada, pela primeira vez, números oficiais sobre o desmatamento do Pantanal, o que permitiu ao governo constatar que esse bioma e o cerrado estão mais vulneráveis à devastação do que a Amazônia.
A divulgação dos resultados do monitoramento por imagens de satélite da planície pantaneira, em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, ocorreu depois deo Correio Braziliense, do grupo Diários Associados, mostrar que o governo Lula privilegiou, nos dois mandatos, a busca pela queda do desmatamento da Amazônia, o que custou o esquecimento e a devastação dos outros biomas brasileiros. Os primeiros resultados fora do território amazônico - para o cerrado e a caatinga - só foram apresentados no ano passado, pelo então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Na semana passada, a titular da pasta, Izabella Teixeira, detalhou os dados do desmatamento no Pantanal e prometeu revelar os índices de devastação dos pampas gaúchos em julho e da Mata Atlântica, em setembro. "Até o fimdeste governo, apresentaremos os dados de desmatamento em todos os biomas, atualizados até 2009".
Com 18,7 mil quilômetros quadrados devastados até 2002, o Pantanal continuou perdendo mata nativa nos seis anos seguintes: foram desmatados mais 4.279 quilômetros quadrados - 2,82% da área total do bioma. Esse índice é maior do que o verificado na Amazônia (2,54%) e na caatinga (2,01%), e só é inferior à proporção desmatada no cerrado (4,17%). O governo, oficialmente, só sabe da atual realidade de outros biomas desde 2009. Já a Amazônia é monitorada desde 1988 e registra queda acentuada do desmatamento - a devastação entre agosto de 2009 e abril de 2010 caiu 48% na Amazônia, em comparação com o mesmo período entre 2008 e 2009.
O monitoramento do cerrado, da caatinga e, agora, do Pantanal, é feito pelo Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já a Amazônia é vigiada pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Quando se comparam as taxas anuais de desmatamento nos quatro biomas, os índices mais elevados também são registrados no cerrado e no Pantanal. O primeiro perde por ano 14,2 mil quilômetros quadrados. O segundo, 713 quilômetros quadrados.
Uma análise preliminar do MMA identifica como principais razões do desmatamento do Pantanal o fornecimento de carvão vegetal para um novo parque siderúrgico em Mato Grosso do Sul e a abertura de nov as áreas para pastagens.
(Diário de Pernambuco, 20/06/2010)