A igualdade entre os sexos alcançou o hábito de fumar. Levantamento do Ministério da Saúde obtido com exclusividade por Zero Hora revela que o percentual de mulheres adultas que fumam em Porto Alegre saltou de 17% para 22%, equiparando-se ao de homens. É como se 36,9 mil mulheres tivessem começado a fumar nos últimos três anos.
Consagrado ao longo de décadas como um hábito predominantemente masculino, o tabagismo está perdendo força entre os homens. A pesquisa, que ouviu por telefone mais de 2 mil moradores de Porto Alegre e um total de 54,3 mil pessoas nas 27 capitais brasileiras, aponta que o percentual de fumantes adultos do sexo masculino baixou de 26,4% para 22,8% entre 2006 e 2009.
Coordenadora da pesquisa, a médica sanitarista Deborah Malta avalia que o crescimento do tabagismo feminino é tendência nacional e mundial, porém mais evidenciado na Região Sul. Na segunda-feira, os resultados completos do levantamento feito entre 12 de janeiro e 22 de dezembro de 2009 serão divulgados em Brasília, possibilitando comparações do percentual de fumantes entre as demais cidades.
Identificada em pesquisas, a alteração comportamental já levou a Organização Mundial da Saúde a dedicar às mulheres, em 31 de maio passado, o Dia Mundial sem Tabaco, incentivando a substituição do cigarro por hábitos saudáveis. Nos próximos meses, o ministério pretende intensificar campanhas antifumo direcionadas a esse público. A ideia é chegar às embalagens de cigarros, que hoje têm mensagens mais voltadas aos homens.
Psicóloga da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Cristina Perez relaciona o aumento do fumo entre elas a mudanças na sociedade:
– A entrada no mercado de trabalho, a busca por espaço e as maiores responsabilidades fizeram com que assumissem comportamentos dos homens, alguns não tão bons.
A mesma relação é vista pelo pneumologista José Miguel Chatkin, coordenador do Programa de Cessação do Tabagismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
– Por fumarem há mais tempo, os homens estão deixando o hábito por sentirem mais de perto os malefícios. Como pode levar até 20 anos para surgirem sintomas de doenças, essa preocupação ainda não chegou ao sexo feminino porque elas fumam, em geral, há menos tempo.
O pneumologista Alexandre Milagres diz que as fumantes mais jovens ainda não associam o hábito a rugas, pele ressecada e câncer, consequências que surgirão mais adiante.
Os males do tabagismo
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS
- Ao fumar, são introduzidas no organismo mais de 4,7 mil substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão.
- O alcatrão é constituído por aproximadamente 48 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e elementos radioativos (causadores de câncer).
A DEPENDÊNCIA
- Quem fuma fica dependente da nicotina. Considerada uma droga bastante poderosa, ela atua no sistema nervoso central como a cocaína, com uma diferença: chega ao cérebro em apenas sete segundos – entre dois e quatro segundos mais rápido do que a cocaína.
- É normal, portanto, que, ao parar de fumar, os primeiros dias sem cigarros sejam os mais difíceis, porém as dificuldades serão menores a cada dia.
AS PROBABILIDADES
Fumantes, comparados aos não fumantes, têm um risco:
– 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão
– Cinco vezes maior de infartar
– Cinco vezes maior de ter bronquite crônica e enfisema pulmonar
– Duas vezes maior de sofrer derrame cerebral
SE PARAR DE FUMAR AGORA:
- Em 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação normalizam
- Após duas horas, não há mais nicotina no seu sangue
- Depois de oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza
- Em dois dias, seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor
- Em três semanas, a respiração e a circulação melhoram
- Em até 10 anos, o risco de infarto é igual ao de quem nunca fumou
Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)
(Por MAICON BOCK, Zero Hora, 19/06/2010)