O governo assumiu o controle total do projeto de construir a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). Valter Cardeal, diretor da Eletrobrás e pessoa de confiança da presidenciável Dilma Rousseff, e Adhemar Palocci, diretor da Eletronorte e irmão do ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, negociam com fornecedores, construtores e sócios do consórcio responsável pela obra.
Os homens do Planalto escolherão os fornecedores de equipamentos para usina, o que envolve contratos de R$ 6 bilhões, e as empreiteiras que irão construir a hidrelétrica, orçada pelo governo em R$ 16 bilhões. Ao todo, Belo Monte custará cerca de R$ 25 bilhões. Essas autoridades também articulam a formação decisiva do grupo de empresas, que vai explorar a hidrelétrica por 35 anos.
Ontem a Agência de Energia Elétrica (Aneel) assinou a homologação do leilão de Belo Monte. Apesar de ter sido apresentada pelo Planalto como um projeto privado, ficando fora das regras de licitações de obras públicas, na prática, a hidrelétrica teve sua concessão entregue pelo governo a si próprio.
As oito empresas que venceram o leilão somente participam de encontros semanais para tomar conhecimento das decisões do governo. Tais reuniões acontecem às quintas-feiras, sempre à tarde e sob comando de Cardeal e Palocci. José Aílton Lima, diretor da Chesf e presidente do consórcio vencedor do leilão, também participa das discussões, mas é o que menos interfere nos rumos do projeto. Os representantes das empresas Queiroz Galvão, Jmalucelli, Serveng, Contern, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Cetenco e Gaia- outras integrantes do consórcio - apenas ouvem o resumo do que foi debatido durante a semana.
Essas companhias foram avisadas de que deveriam esquecer os arranjos e deixar tudo por conta da Eletrobrás. Antes do leilão, os investidores já tinham pré-acordos com fornecedores de equipamentos para a usina. Fontes do jornal O Estado de S. Paulo revelam que essa submissão ao governo, que até agora fazia parte do jogo, começou a incomodar. Representantes das empresas têm se queixado de que Cardeal e Palocci escondem informações estratégicas.
Em relação a Belo Monte, outro objeto de polêmica é a definição de quem irá construir a terceira maior hidrelétrica do mundo. As empresas do consórcio Norte Energia, quase todas da área de engenharia e construção, esperavam repartir entre si as imensas obras civis da usina. Por contrato, elas têm preferência para trabalhar na obra, desde que ofereçam o melhor preço. Porém, semanas atrás, Cardeal e Palocci falaram sobre a necessidade de se incluir ao menos uma grande empreiteira, "que venha a somar" na obra.
Camargo Corrêa e Odebrecht lideraram um consórcio para disputar Belo Monte, mas desistiram do leilão na reta final, alegando que o preço estabelecido para o empreendimento pelo governo, de R$ 19 bilhões, era inviável. Para as construtoras, a obra custaria R$ 30 bilhões. Os executivos ligados às empresas afirmam que foram procurados pela Eletrobrás e que já apresentaram uma proposta para participar da construção da hidrelétrica.
Mobilizações
O projeto da usina é criticado por ambientalistas, representantes de movimentos sociais e lideranças indígenas e, agora, divide índios dos Estados de Mato Grosso e Pará. Durante uma reunião que aconteceu em Altamira (PA), durante os dias 4, 5 e 6 de junho, os ânimos dessas populações se exaltaram.
Das 11 etnias que participaram do encontro, sete se declaram a favor da obra: Xincrin do Bacajá, Assurini, Kararaô, Arawatê e Arara, dos territórios indígenas Larajal, Paracanã e Xipaia.
O cacique kaiapó Megaron Txcurramãe, sobrinho do cacique Raoni, disse, em entrevista ao Estado de S. Paulo, que a luta continuará, já que os indígenas favoráveis ao projeto são minoria. Segundo ele, essas etnias já fecharam acordo com a Eletronorte e se posicionam a favor da construção da usina porque têm recebido combustível, cestas básicas e dinheiro para aplicação em projetos.
(O Estado de S. Paulo, Amazonia.org.br, 17/06/2010)