Na busca de diminuir a dependência mundial do petróleo, cientistas procuram formas alternativas a escassez desse insumo para que o impacto negativo político e econômico, nos quatro continentes, alcancem menores proporções. Entre as possibilidades, a cana-de-açúcar é uma perspectiva real que se destaca há anos e, hoje, com o conceito sustentabilidade em expansão ganha mais espaço devido aos avanços tecnológicos na área bioenergética.
A cada dia as pesquisas em cana-de-açúcar crescem de forma constante a possibilitar um melhor desenvolvimento desde o seu plantio até sua manipulação. As experiências passadas e o forte investimento feito nos últimos anos no setor de Ciências & Tecnologia pelo governo colocaram nossas pesquisas, no setor sucroalcooleiro, na vanguarda tecnológica mundial. Mas, o que os cientistas buscam desenvolver?
Em conferência realizada no último sábado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA), o pesquisador Marcos Buckeridge explicou em que nível o Brasil se encontra nos avanços tecnológicos agrários e da biomassa originada da cana-de-açúcar. “Você pode pegar qualquer outra área de ciência do Brasil, mas dificilmente encontrará uma na qual tenhamos tecnologia de ponta como na bioenergia”, completou Marcos.
Segundos dados da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP), o setor sucroalcooleiro do país movimenta aproximadamente US$ 87 milhões. Essa cifra equivale 4,6 do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) e desenvolver sua capacidade tecnológica pode triplicar seus valores financeiros aumentando a produtividade sem a necessidade de usufruir de novas terras.
Devido ao menor impacto ambiental gerado pelo etanol ao meio ambiente, as oscilações do preço do petróleo e a diversificação na matriz energética, os investimentos no setor bioenergético crescem de forma constante. O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia (CTBE) desenvolvido pelo Ministério da Ciência & Tecnologia recebeu subsídios de R$ 69 milhões para sua criação e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que fomenta aproximadamente R$ 600 milhões por ano em pesquisas básicas e desenvolvimento tecnológico no Estado, são exemplos do empenho do governo em melhorar a produção sustentável do álcool etílico.
Esse grande investimento no setor possibilita que os cientistas cada vez mais possam melhorar o aproveitamento da cana como bem final, levedura, aditivo e crédito de carbono. Por exemplo, as novas tecnologias no manejo do álcool como a hidrólise do bagaço e o uso da palha para a produção de energia são alguns dos principais trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores do setor. “O Brasil está focado em melhorar produtividade dessa planta e fazer o chamado etanol de celulose com sua biomassa”, retrata Buckeridge.
Cana-de-açúcar frente ao Milho
Diferente dos estadunidenses, que também manipulam o milho na busca de eficiências enérgicas, o insumo brasileiro possui várias vantagens em relação ao produto norte-americano. Segundo estudos do CTBE, enquanto os EUA gastam uma unidade de energia equivalente de combustível fóssil para gerar 1,3 litros de etanol, no Brasil, a mesma quantidade produz entre oito e nove unidades.
Hoje aproveitar toda biomassa da cana é o principal desafio dos cientistas brasileiros. Buckeridge afirma que, atualmente, mais de 40 laboratórios distribuídos em seis Estados trabalham nessa otimização. E, garantiu que ao aproveitar todo potencial desse produto, significativamente, sua fabricação aumentará. “A cana tem 18% de sacarose em média e isso corresponde a 1/3 de sua energia. Sobram o bagaço e palha e cada um corresponde aos outros 2/3. Ao conseguirmos pegar a celulose existente em ambos teremos a possibilidade de – teoricamente – triplicarmos nossa produção energética”, afirma.
Mauricio Hermann de Souza é aluno do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu (USJT). Esta reportagem integra o Projeto Repórter do Futuro, no módulo Descobrir a Amazônia – Descobrir-se Repórter.
(Por Mauricio Hermann, EcoDebate, 18/06/2010)