O histórico de atuação da ex-Aracruz Celulose (Fibria) no Espírito Santo não deixa dúvidas. A informação de que há uma empresa rondando a região norte capixaba, em nome da transnacional, para coletar assinaturas de agricultores em documento atestando os limites das terras, não cheira nada bem. Certamente, o que a empresa procura é uma maneira de comprovar consentimento dos moradores, de que é detentora de áreas na região. O que, nem de longe, chega perto da verdade.

A terceirizada da transnacional, de nome Pretop, é do próprio município de Aracruz. Seus funcionários chegam como quem não quer nada nas propriedades confrontantes com os eucaliptais e dizem que estão fazendo um inventário de terras, com um mapa em mãos. Chamam os donos da área pelo nome, pedem que informem seus dados pessoais e, em seguida, que assinem o documento, reconhecendo que as divisas estabelecidas pelas ex-Aracruz Celulose são legítimas.

Com um detalhe; os marcos da divisa não são informados pelos tais funcionários, pois eles alegam que este trabalho foi feito por outra empresa. No mínimo, estranho.

No norte do Estado, é sabido que alguns agricultores, de origem humilde, e sem perceber a real intenção da empresa, desprovidos de conhecimento a respeito, assinaram o documento. O que mostra como age a ex-Aracruz, valendo-se de mentiras para renegar a verdadeira história do Estado e o povo que a construiu: índios, quilombolas e pequenos agricultores. Afinal, o que pretende a ex-Aracruz com a assinatura dos reais proprietários de terras, reconhecendo que ocupam as dividas das terras? Boas intenções não cabem na trajetória da transnacional.

As desculpas esfarrapadas apresentadas pelos funcionários da Petrop, de que o trabalho é realizado periodicamente, definitivamente, não colam. Chama atenção, ainda, o fato de as abordagens ocorrerem logo após a apresentação do relatório que enumerou os impactos aos direitos humanos da monocultura do eucalipto no Estado, em sessão que marcou a Assembleia Legislativa, por ter representado, pela primeira vez, a abertura da Casa para que as comunidades prejudicadas apontassem os responsáveis pela condição de miséria na qual se encontram, resultado da atuação devastadora da transnacional na região.

O novo trabalho encomendado pela ex-Aracruz Celulose nada mais é do que a repetição do que foi feito no passado, na tentativa de legitimar a grilagem de terras que fez, logo que se instalou no Espírito Santo, à época da ditadura militar, com favores dos governos federal e estadual.

Depois de usurpar o território do antigo Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, a estratégia da ex-Aracruz para provar que é dona do que não lhe pertence, enganando os proprietários do norte do Estado, não tem outra conotação: trata-se de má-fé.

(Por Manaira Medeiros, Século Diário, 17/06/2010)