A frase é do geógrafo Ariovaldo Umbelino Oliveira - professor pela Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH) da USP - sobre provável reação dos índios à construção da hidrelétrica de Belo Monte. Ariovaldo defende sua causa e afirma que indígenas têm prioridade sobre o uso da terra de acordo com nossa constituição (em segundo lugar estão afro-descendentes, em terceiro o meio-ambiente e em último os demais brasileiros).
Não se pode mover uma comunidade inteira de seu local de origem sem uma ponderada pesagem dos prós e contras, e historicamente, grandes construções não têm apresentado muitos prós a populações do interior, antes servem a aristocracias locais e seus interesses. “O Brasil exporta açúcar desde o período colonial, melhorou as condições da população da zona da mata?”, provoca Umbelino.
Não que não se deva pensar nos grandes proprietários, “ a atividade industrial não é incompatível com a preservação ambiental, só tem que se cumprir a lei”, diz o professor. O “grande problema da construção de barragens na Amazônia é o tamanho dos lagos e a potencialidade de geração de energia”. Muitas das usinas já feitas só alcançam seu funcionamento pleno em períodos de cheia, sendo bastante ineficientes em épocas mais secas.
Além disso há o problema da cultura de exportação: a geração de energia não está voltada à população brasileira, “a energia de Tucuruí é usada pela Vale do Rio Doce para extrair minério de ferro e exportá-lo”
Une-se a isso a grande concentração de terras que também rouba espaço dos nativos. A propriedade do solo [também] não pode ser entendida como a propriedade de um automóvel”, ressalta o cientista. Possuir terra inclui uma série de deveres como a produtividade e o respeito à legislação ambiental, “propriedade privada da terra não é plena”, diz o geógrafo, está submetida a uma função social e se não a cumpre deve ser desapropriada.
Mas infelizmente as regras são ignoradas, e, de acordo com o professor, “o Brasil tem ótimas leis, o problema é o cumprimento delas”. Se a legislação atual realmente entrasse em vigor, Ariovaldo acredita que muitos problemas diminuiriam, mas para ele o interesse econômico ainda não aponta nesta direção.
(Por Eduardo Santos Nascimento, especial para o Ambiente JÁ, 17/06/2010)