Os governos mundiais investiram nos últimos dois anos US$ 26 bilhões em mais de 80 projetos de captura e armazenamento de carbono, agora uma ferramenta recém desenvolvida pode impulsionar de vez esse procedimento
Uma das grandes dúvidas com relação às tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) sempre foi que tipo de impacto a estocagem do gás no subsolo poderia trazer para o meio ambiente. Agora, uma nova ferramenta de monitoramento chamada de Tomografia de Resistividade Elétrica - Electrical Resistivity Tomography (ERT) - promete ajudar no controle do fluxo do carbono e estabelecer modelos mais seguros de estocagem.
Desenvolvida pelo Lawrence Livermore National Laboratory (LLNL), dos Estados Unidos, a tecnologia funciona de maneira similar às tomografias computadorizadas usadas na medicina. O ERT capta imagens da resistência do solo, permitindo aos cientistas visualizarem propriedades como temperatura, saturação e composição.
A tecnologia utiliza eletrodos para medir a resistência elétrica dos componentes do solo. Como o CO2 tem uma resistência cinco vezes maior que os elementos ao seu redor, o ERT consegue dizer com precisão onde ele está e com que velocidade e trajetória está se movendo.
O ERT vem sendo testado pela Parceria Regional Sudoeste de Seqüestro de Carbono dos EUA em um projeto de CCS no Mississipi. Pesquisadores estão analisando um milhão de toneladas de CO2 armazenadas em um antigo poço de petróleo a mais de três mil metros de profundidade.
“Nós podemos monitorar com perfeição o CO2 logo após ele ser injetado e acompanhar sua acomodação nas cavidades rochosas”, afirmou o geofísico Charles Carrigan, um dos líderes do projeto.
Segundo Carrigan, ainda é preciso investir mais na capacidade de entender na compreensão das imagens captadas pelo ETR, já que a leitura dos processos e do fluxo do carbono é muito complexa. Mas o pesquisador garante que a tecnologia será fundamental para a evolução do CCS.
“De nada adiantaria que as empresas capturassem o carbono se isso acabar trazendo mais prejuízos para o ecossistema que a própria emissão do gás. Tecnologias de monitoramento no modelo do ETR serão indispensáveis para um futuro de baixas emissões”, disse Carrigan.
Meta
Outra notícia animadora para o CCS vem de um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), que será publicado na próxima reunião do G8 no Canadá no fim de junho, que contabilizou os projetos em andamento pelo mundo e traçou boas perspectivas para a tecnologia.
A AIE registrou que nos últimos dois anos os governos mundiais investiram US$ 26 bilhões em projetos de larga escala de CCS, sendo que de 19 a 43 deles devem ser lançados até 2020.
Atualmente, 80 empreendimentos em vários estágios de desenvolvimento estão sendo realizados ao redor do mundo, com cinco já operacionais.
“Este nível de comprometimento é muito promissor, com os governos cedendo um apoio vital para o andamento dessas iniciativas”, afirmou Nobuo Tanaka, diretor da AIE.
A Agência elogiou os países que mais investiram no setor, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido. Mas alertou que os esforços devem ser intensificados para que a meta traçada pelo G8 de 100 projetos de CCS em funcionamento em 2020 seja alcançada.
“É essencial que os países prossigam com suas políticas de incentivo. Alcançar as metas do G8 é possível, mas será um desafio”, concluiu Tanaka.
Imagem: Técnicos descem os cabos com os eletrodos responsáveis pelo funcionamento do ETR / LLNL
(Por Fabiano Ávila, Carbono Brasil, Envolverde, 17/06/2010)