A Comissão de Economia e Desenvolvimento Sustentável, presidida pelo deputado Adolfo Brito (PP), discutiu em audiência pública, na manhã desta quarta-feira (16), a repercussão da venda da unidade da Aracruz em Guaíba para a empresa chilena CMPC e as perspectivas dos polos de florestamento no estado. Os participantes destacaram a necessidade de retomada dos investimentos interrompidos por ocasião da crise mundial e do estabelecimento de um marco legal para o setor.
O presidente da Ageflor, Leonel Freitas Menezes, apresentou um histórico das dificuldades enfrentadas pelo setor de florestamento, avaliando que essa fase está superada e que agora é o momento oportuno para tirar da gaveta projetos que estavam abandonados. Segundo ele, as “commodities florestais” vêm retomando os preços de antes da crise mundial, chegando hoje a 900 dólares por tonelada. “É preciso recolocar o tema na pauta, agora num novo patamar, mais sólido, discutindo onde plantar, como plantar”, afirmou. “E para isso a Assembleia Legislativa tem que estar presente, especialmente no estabelecimento dos marcos legais para o setor”.
Menezes lembrou ainda que o florestamento envolve não só a indústria de papel e celulose, mas também a de móveis e construção civil. Ele citou Mato Grosso do Sul como exemplo no qual as autoridades gaúchas deveriam se inspirar. “Mato Grosso do Sul fez em dois anos o que vamos fazer em dez”, afirmou.
O assessor da Farsul Ivo Lessa relatou um primeiro momento de desconfiança por parte do setor produtivo, quando se anunciaram investimentos florestais no Estado, mas disse que com o passar do tempo entendeu-se que o florestamento seria mais uma atividade, que vinha "não para concorrer, mas para associar-se a outras”.
O gerente da CMPC, Renato Afonso Rostirolla, disse que a compra da unidade da Aracruz não alterou os planos de crescimento e o dia-a-dia da empresa. Segundo ele, a relação com a administração chilena é muito boa e foram enviados apenas dois funcionários de lá, o restante da administração da Aracruz manteve-se como estava, “num sinal de bastante confiança”.
O presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras (Sindimadeira), Serafim Quissini, reforçou a necessidade de um marco legal para o setor e se disse preocupado com a burocracia que afeta os pequenos e médios produtores. “Os grandes estão ok, mas os pequenos estão completamente enrolados”, afirmou. Segundo ele, a entidade recebe telefonemas diariamente de produtores questionando se podem ou não plantar. “Digo que é um bom negócio, mas a longo prazo. E ninguém está querendo arriscar, a não ser que tenhamos regras claras”.
Representando a Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai), Carlos Boanova Andrade garantiu que o órgão tem se preocupado muito com o tema. “Tínhamos expectativa com a instalação de grandes empresas e a crise mundial freou esta vinda”, disse. “Estamos trabalhando agora num diagnóstico florestal do Estado que será importante para sabermos o que temos plantado e o que se pode plantar”. O presidente da Comissão, deputado Adolfo Brito (PP), pediu que a Sedai trabalhe em conjunto com a Assembleia Legislativa para a criação do marco legal para o setor.
O deputado Alceu Moreira (PMDB) disse não ver problema na compra da Aracruz pela chilena CMPC e que, pelo contrário, é algo a se aplaudir, e criticou os empecilhos criados com o pretexto de se defender o meio ambiente. “É necessário sair dessa posição raivosa de se discutir tudo pelo viés ambiental”.
Também estiveram presentes os deputados Luiz Fernando Záchia (PMDB), Jerônimo Goergen (PP), Luis Augusto Lara (PTB), Heitor Schuch (PSB) e Francisco Pinho (DEM), além de representantes de entidades e empresas ligadas ao tema.
(Por Marinella Peruzzo, AL-RS, 16/06/2010)