Apenas dois meses após a morte de um jovem por seguranças da Garra, conforme denunciou o jornal “Teixeira News”, do sul da Bahia, mais um capítulo de violência marca uma das empresas que trabalham para as transnacionais de papel e celulose no País. Desta vez, foi um capixaba que teve tiros disparados em sua direção e seu carro saqueado, em Mucuri, sul da Bahia, em uma região próxima à divisa com o Espírito Santo. A notícia foi divulgada pelo blog Quilombo News que relata a participação da contratada da Suzano Papel e Celulose, Prossegur Brasil S/A, no ato criminoso.
A informação do blog baiano é que vigilantes da Prossegur Brasil S/A., empresa responsável pela vigilância dos plantios de eucalipto da Suzano Papel e Celulose S/A., no município de Mucuri, atacaram a tiros dois homens a bordo de um Fiat/Uno e saquearam o veículo, enquanto as vítimas foram obrigadas a fugir pelo mato, conforme registro policial de nº 622-2010 da subdelegacia da Polícia Civil de Itabatã, município de Mucuri.
A denúncia foi feita pelo capixaba Arcanjo Lourenço de Souza, 51 anos. Ele disse que estava em seu carro estacionado nas proximidades da comunidade da vila Hugo, na região do Picadão da Bahia, onde aguardavam uma pessoa, quando ele e esta pessoa foram surpreendidos com por um carro da Prossegur, com homens armados que já chegaram atirando.
“Conta à vítima que os vigilantes não só atiraram contra eles, como também os acusaram de ladrões. As vítimas foram obrigadas a correr em direção ao mato, onde ficaram refugiados por quase duas horas. Mas, quando retornaram ao local, encontraram o carro no mesmo lugar, com os dois pneus dianteiros furados a bala, sem o pneu sobressalente, o aparelho de som e a bateria. As carteiras e os celulares também foram furtados”.
A informação é que a segurança armada da Suzano também representou queixa na Polícia Civil de Itabatã. Entretanto, à polícia civil os seguranças afirmaram que se depararam com dois homens cortando árvores de eucalipto da empresa Suzano Papel e Celulose e que foram obrigados a disparar tiros de revólver calibre 38 contra os homens, para que eles deixassem o local.
Os vigilantes assumiram a autoria dos tiros, não nada disseram sobre o furto dos equipamentos do carro, que acabaram sendo entregues à polícia.
Esta não é a primeira vez que a acusação de “roubo de eucalipto” é utilizada para justificar a violência pela segurança armada destas empresas contra agricultores e populações do entorno dos eucaliptais. O próprio vereador presidente da Câmara Municipal de Mucuri, Agripino Botelho (PR), ao ficar sabendo do episódio, repudiou a iniciativa dos seguranças e acusou as empresas de celulose de provocarem o terror e a violência rural na região.
Na região, eles ressaltaram ainda o crime ocorrido em 17 de março deste ano. Na ocasião, um rapaz de 24 anos foi morto pela Garra Escolta Vigilância e Segurança Ltda. após ter sido acusado de roubar eucaliptos da ex-Aracruz Celulose (Fibria), em Costa Dourada, litoral sul da Bahia.
Além do jovem abatido pelos seguranças da Fibria Celulose, o pai da vítima, o lavrador Osvaldo Pereira Bezerra, o "Osvaldinho", 53 anos de idade, foi atacado e teve o braço esquerdo quebrado em dois lugares por um dos vigilantes.
Casos de violência dessas empresas são denunciados há anos também no Espírito Santo, onde a Visel (antiga segurança armada da Aracruz Celulose) e a Garra, atual segurança armada da ex-Aracruz Celulose (Fibria), são sistematicamente acusadas de coagir as comunidades impactadas pelo eucalipto, sem qualquer providência do poder público.
Tal impunidade já motivou prisões, agressões e até invasões em residências nas terras quilombolas, sob a acusação do roubo de restos de eucalipto, que a transnacional não usa. Valendo-se dessa acusação, muitas prisões arbitrárias e invasões a residências, inclusive com o apoio da Polícia Militar, passaram a ser comuns no norte do Espírito Santo.
Conforme foi apontado no relatório Impactos do Monocultivo em Direitos Humanos, apresentado em maio deste ano na Assembléia Legislativa, o tratamento da transnacional em relação às comunidades impactadas nunca teve como base o diálogo, muito pelo contrário. Os movimentos sociais contrários aos danos gerados pela atividade sempre tiveram sua luta criminalizada, sofrendo intimidação.
Atualmente, denunciam as comunidades do norte do Estado, esta intimidação é promovida pela Garra Vigilância, que pertence a Cláudio Farina, irmão do juiz Alexandre Farina. Este atuou no município de Aracruz no passado. Na época, a Garra ganhou um dos maiores contratos na área de segurança no Estado junto à ex-Aracruz, no mesmo momento em que a transnacional era acusada por inúmeros crimes contra índios e quilombolas.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 16/06/2010)