Em discurso transmitido pela TV em rede nacional na noite desta terça-feira, o presidente Barack Obama disse que a British Petroleum vai ter que pagar por todos os danos causados na região do golfo do México, nos EUA. Obama também prometeu desenvolver um plano de longo prazo para recuperação da região atingida e defendeu a mudança da matriz energética do país.
O vazamento de petróleo no golfo do México, a catástrofe ecológica mais grave da história dos EUA, começou por causa da explosão e conseguinte afundamento no mar da plataforma "Deepwater Horizon", administrada pela BP, em abril. O incidente deixou 11 mortos.
Em comunicado divulgado logo após o pronunciamento de Obama, a BP afirmou que compartilha a meta de limpar o vazamento e de ajudar as pessoas e o ambiente afetados. A companhia também disse que espera ansiosamente pela reunião com o presidente americano nesta quarta-feira "para uma discussão construtiva sobre como melhor atingir esses objetivos mútuos". Procurado por telefone pela agência Associated Press, o porta-voz da BP não quis comentar.
"Nunca houve um vazamento deste tamanho e a essa profundidade", disse Obama, que afirmou ter reunido o time dos melhores profissionais e técnicos para tentar resolver o problema. "É o pior desastre que os EUA já sofreu em sua história."
"É como uma epidemia, que vamos ter de combater por anos. Vamos lutar por quanto tempo for necessário, e vamos fazer a BP pagar pelo que for necessário", afirmou o presidente. "Amanhã vou me encontrar com o presidente da BP e vou informá-lo que eles terão de pagar por todos os danos que causaram."
No final do pronunciamento, Obama reconheceu que lidar com petróleo envolve riscos, e afirmou que é chegado o momento de os EUA passarem a desenvolver energia limpa no lugar da dependência dos combustíveis fósseis. "Aceito todos os tipos de sugestão. Só não vou aceitar a falta de ação."
Três partes
Obama, então, dividiu seu discurso em três partes. Primeiro, falou sobre o que está sendo feito para limpar a área. Em seguida, disse o que está sendo feito e o que será feito para ajudar "nossos amigos no golfo". Finalmente, falou sobre as medidas a serem tomadas para que um problema como esse não volte a se repetir.
"Milhões de galões já foram removidos por causa dos nossos esforços. Vamos oferecer todos os recursos e esforços necessários, mas novos desafios vão sempre existir. Se houver problemas, nós vamos resolver."
Obama reconheceu que um grande estrago ambiental e econômico já foi causado por causa do vazamento de petróleo, por isso prometeu um projeto de recuperação e restauração da costa do golfo do México.
Falando sobre sua visita à região afetada, Obama disse ter visto restaurantes vazios e conversado com donos de lojas e restaurantes. "A tristeza e raiva que eles sentem não é só pelo dinheiro que perderam, mas também porque seu modo de vida está ameaçado."
O presidente ressaltou que é preciso ter um plano no longo prazo. "Eu firmo esse compromisso nesta noite. Vamos desenvolver um plano de restauração da costa do golfo assim que possível. E a BP vai pagar pelo impacto que o vazamento teve na região."
Finalmente, falando sobre como evitar que esse tipo de acidente não se repita, Obama lembrou a tentativa de combater a corrupção e os ccasos de conflito de interesses na agência que controla a exploração de gás e petróleo nos EUA, o Serviço de Gerenciamento de Recursos Minerais.
Ele anunciou o novo diretor para a agência --Michael Bromwich -- e disse que nos próximos meses a agência deixará de ser uma parceira das empresas, para se tornar um órgão supervisor.
Tamanho do desastre
Nesta terça-feira, uma equipe de cientistas americanos elevou a estimativa para o vazamento de petróleo para entre 35 e 60 mil barris por dia --um aumento significativo em relação à estimativa anterior, de entre 20 e 40 mil barris por dia.
Em litros, representa entre 5,5 e 9,5 milhões de litros de petróleo vazando por dia no golfo do México, segundo os novos cálculos, e representa até 3,1 milhões de litros a mais do que calculava o governo norte-americano até agora. Os cientistas levaram em conta as análises de uma série de vídeos de alta resolução, tecnologias acústicas e o volume recolhido no navio petroleiro que recebe o óleo.
Tentativas
O "funil" de contenção colocado no final de maio sobre o poço pode capturar até 18 mil barris diários. Por isso, a BP (British Petroleum) instalará um segundo dispositivo do tipo, conhecido como Q4000, que poderia conter entre 20 e 28 mil barris.
No total, a estratégia de contenção que a BP desenvolveu, a pedido do governo americano, prevê expandir a capacidade de captura de petróleo para entre 40 e 53 mil barris diários no final deste mês e de 60 a 80 mil barris até meados de julho. A BP se viu obrigada a suspender hoje durante cinco horas as tarefas de transposição devido a um pequeno incêndio no navio de armazenamento.
Aprovação
A maioria dos americanos (59%) quer que a empresa britânica BP, responsável pela plataforma que explodiu no golfo do México, pague por todas as perdas financeiras dos habitantes da costa dos EUA, mesmo que isso leve a empresa à falência. Os custos incluiriam salários de trabalhadores dos setores pesqueiro e turístico.
Além disso, 71% dos americanos pensam que Obama não foi duro o suficiente com a BP.
A pesquisa de opinião foi encomendada pelo jornal USA Today ao instituto Gallup e foi conduzida entre os dias 11 e 13 de junho.
Pouco mais da metade dos americanos (53%) consideram a resposta de Obama ao derrame "ruim" ou "muito ruim"; 81% deram a mesma resposta para a BP.
A avaliação da população em relação a Obama não mudou significativamente nas últimas duas semanas. Uma pesquisa anterior do Gallup, realizada entre 5 e 6 de junho, mostrou que o índice de aprovação à resposta de Obama ao vazamento ficava em 40%.
Quando os dados são separados por preferências partidárias, as visões de republicanos são muito mais críticas da resposta de Obama ao desastre: 79% dos republicanos escolheram "ruim" ou "muito ruim", contra 59% dos independentes e (27%) dos democratas.
Independentemente de preferência partidária, porém, a maioria dos americanos concorda que a BP realizou um trabalho "muito ruim" na contenção do vazamento.
(Folha.com, 15/06/2010)