Em 2006, o Brasil tornou-se auto-suficiente em sua matriz energética, ou seja, conquistou a independência na produção de energia consumida pela nação. Isso só foi possível devido à fabricação cada vez mais substancial do biocombustível, a partir da cana-de-açúcar.
Segundo dados de 2007 do Ministério de Minas e Energia, 30, 9% da energia utilizada no país provém da biomassa (que inclui o carvão vegetal e a lenha) e 37,4% do petróleo e derivados.
A cana de açúcar é um vegetal que necessita de boas condições para se desenvolver, o que explica seu alto desempenho em solo tropical, com água, luz e solo fértil e sua baixa presença em países mais frios. Com sua vasta dimensão territorial, o país teria espaço para absorver essa demanda de plantio da cana.
Além disso, segundo Marcos Buckeridge, pesquisador de institutos como Lafieco, INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), CTBE (Lab. Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol)e BIOEN(programa da Fapesp em bioenergia), o Brasil tem posição de liderança na pesquisa mundial do biocombustível. “O Brasil é um país que detém tecnologia agrícola.”
Nos últimos anos, o governo tem investido, através de seus órgãos de financiamento como a Fapesp, Cnpq, Capes, entre outras, em pesquisas na área de bioenergia. O resultado é visível e a nação torna-se referência mundial na produção do etanol. O estado focou-se na questão e tem usado esse trunfo como moeda de troca internacional. Em 2007, Lula e George Bush, então presidente dos Estados Unidos, reuniram-se para discutir a política que adotariam na produção e venda do álcool. Os dois países são os principais fabricantes e pesquisadores da área.
Em 2005, a Lei 11.097/2005 introduz o biodiessel no mercado, ao instituir um percentual de 5% no diesel derivado do petróleo. A partir daí, incentivos tornaram-se cada vez mais freqüentes. O Mato Grosso do Sul, por exemplo, instaurou isenção fiscal de 70% aos produtores de biocombustível do estado.
O país produz a cada safra 27,5 bilhões de litros de álcool que, se vendidos ao preço médio calculado, movimentaria aproximadamente 30,2 bilhões de reais (Cepea-Esalq). Esses dados fornecem uma dimensão das possibilidades desse mercado. A produção do biocombustível rentável, no entanto, ainda encontra impedimentos, desde as etapas do plantio de cana ao rendimento do vegetal no processo da sua transformação em etanol.
“A cana tem 18% de sacarose, em média. Quando se produz o álcool apenas da sacarose, usa-se somente um terço da energia existente na cana. O bagaço e a palha corresponde a um terço cada.(…) Usando-se essas duas outras fases, triplica-se o potencial energético brasileiro.” O etanol celulósico, explica Buckeridge, possibilitaria um rendimento muito maior da cana de açúcar brasileira. Para isso, são necessárias pesquisas para apurar um meio eficiente de extrair energia dessas fases do vegetal.
As cifras milionárias investidas nesse processo científico (algo em torno de 300 milhões, segundo Buckeridge) têm estabelecido condições para que o Brasil tenha papel de liderança nessa área de pesquisa. Laboratórios como CTBE tem agido em conjunto com centros de pesquisa internacionais. O grande desafio dessa fase é a síntese de enzimas para o processo de quebra da celulose. Ao que tudo indica, laboratórios como European Bioinformatics Institute e empresas como Novozymes Latin America estão na dianteira nesse processo. A Novozymes, multinacional dinamarquesa, já fornece enzimas sintetizadas artificialmente que são eficientes na obtenção do etanol celulósico. O próximo passo é alcançar a escala industrial.
Clara Roman é estudante de jornalismo da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo).
(EcoDebate, 14/06/2010)