A preocupação com as ervas daninhas resistentes a um dos herbicidas mais usados na agricultura e que atualmente assombra os Estados Unidos chegou ao Brasil, onde já foram registradas 5 dessas plantas conhecidas como "super ervas daninhas", resistentes ao glifosato.
A região Sul do Brasil é a mais afetada, segundo Dionísio Grazieiro, pesquisador da Embrapa Soja, a estatal brasileira de pesquisa agrícola, e segundo ele é preciso agir rápido para evitar a disseminação entre as lavouras transgênicas resistentes ao herbicida antes que qualquer contramedida se torne ineficaz.
- A forma como usamos o glifosato é que acaba sendo o problema. Eu diria que a gente tem informações técnicas que permitem controlar o problema ou até evitar, mas lógico que se continuar como está vamos cada vez mais agravando o problema, de uma forma que pode não existir solução - explicou ele em entrevista à Reuters.
- O problema não está relacionado à soja transgênica, mas principalmente ao mau uso do produto (glifosato) - disse o pesquisador, citando, por exemplo, o fato de agricultores muitas vezes aplicarem porções do herbicida menores do que o recomendado.
Outro detalhe que muitas vezes não é observado é o momento ideal de realizar a aplicação de acordo com o tamanho da planta daninha.
Duas espécies da erva daninha chamada buva são as que mais preocupam, pois elas apresentam um nível bastante alto de infestação no Paraná e no Rio Grande do Sul, Estado pioneiro no uso de soja transgênica tolerante ao glifosato.
- É estimado que pelo menos metade das regiões está contaminada com essa planta daninha nessas áreas - disse Grazieiro, explicando que ela ainda aparece pouco na região central do país, para onde tem sido levada principalmente através do uso de colheitadeiras.
As outras plantas já registradas no país são a digitária insularis, que atravessou a fronteira do Paraguai e já é identificada no oeste do Paraná; o azevém, encontrado na região central do Paraná e no Rio Grande do Sul; e o amendoim bravo, que tem baixo nível de resistência a aparece no Rio Grande do Sul.
- Nenhum herbicida provoca resistência, o que a gente entende é que o indivíduo resistente já existe no campo. A resistência passa a se destacar porque você mata as suscetíveis (ao glifosato) - explicou Grazieiro. - Por isso a gente recomenda um sistema de produção, a rotação de cultura, que não se faça monocultura.
Segundo o pesquisador, as perdas de produtividade dependem da infestação já que cada espécie pode ser mais ou menos agressiva, mas em média os números giram em torno de 40 por cento. Entretanto, pode até mesmo chegar a uma perda praticamente total da lavoura.
- Não posso culpar o agricultor. Às vezes eu tenho a informação mas o agricultor luta constantemente contra a questão econômica, a sobrevivência. Ele não consegue enxergar no médio, longo prazo, então entra num sistema de monocultura.
Somente nos Estados Unidos, especialistas estimam que as ervas daninhas resistentes ao glifosato infestaram quase 11 milhões de acres até agora. Mais de 130 tipos delas apresentam algum nível de resistência a herbicidas em mais de 40 Estados norte-americanos.
A Monsanto, empresa que desenvolveu a soja, o milho e o algodão transgênicos tolerantes a glifosato, já afirmou inclusive que vai reestruturar seus produtos em um esforço para ajudar a combater a disseminação dessas ervas daninhas.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), em 2009 o volume de herbicidas vendidos no Brasil foi de 430 milhões de litros, ou 2,5 bilhões de dólares, sendo 280 milhões de litros apenas de glifosato.
A expectativa da entidade para este ano é de uma alta de 5 por cento tanto em valor quanto em volume para os defensivos em geral, mas a tendência é de que as vendas de glifosato cresçam acima das de outros herbicidas.
(Reuters/Brasil Online, 11/06/2010)