Detentor do cargo máximo da Philip Morris Brasil (PMB) há quatro anos, Amâncio Sampaio demonstra ser um homem acessível ao diálogo e que não se abala diante de perguntas envolvendo assuntos relativamente melindrosos. Um dos temas sobre os quais conversou com a imprensa ontem, após a solenidade, foi a possibilidade de a PMB estar interessada em comprar fumageiras. Na ocasião, disse que o desejo da empresa é manter a boa relação de clientela com os fornecedores de tabaco.
As especulações em torno do assunto têm seus motivos de existir. Fala-se que a tendência no setor fumageiro é a chamada verticalização, onde a mesma companhia atua desde a produção do fumo, junto ao agricultor, até a fabricação do cigarro, passando pelo beneficiamento do tabaco em folha. É o que faz a Souza Cruz e a japonesa JTI, que comprou, ano passado, as fumageiras Kannenberg e KBH&C, de Santa Cruz.
Entretanto, segundo Sampaio, a intenção da PMB seria manter uma postura próxima às fumageiras, com grande integração junto à cadeia produtiva, mas como freguesa. “Temos um relacionamento antigo com as fumageiras. Somos grandes clientes e esta é uma parceria vencedora”, afirmou. Com relação às intenções de futuro da PMB, o presidente limita-se a dizer que integram um plano estratégico que visa a busca pelo aprimoramento da qualidade.
O que é?
A verticalização ocorre quanto a mesma empresa atua na produção e beneficiamento do tabaco e na fabricação do cigarro. Ela é vista como um fenômeno cíclico na história do setor fumageiro. O ex-presidente da Universal Leaf Tabacos, Robert Earl Jones, conta que há 30 anos a maioria das cigarreiras era verticalizada. Entretanto, na época tais empresas optaram por vender seus setores de beneficiamento do tabaco, pois comprar a matéria-prima pronta era mais rentável.
“Agora, estamos em uma nova fase, onde produzir o próprio tabaco ficou mais interessante, gerando a possibilidade de novas fusões. Provavelmente em dez ou 20 anos, este ciclo volte a se alterar”, comenta Jones. Na opinião dele, a tendência pela verticalização se deve, em parte, à busca por mais proximidade com o produtor rural, até para estabelecer um controle de qualidade próprio.
Robert Jones já falou destas tendências do setor quando anunciou sua aposentadoria da presidência da Universal, no meio do ano passado. Uma semana depois, a cigarreira JTI anunciou a compra da Kannenberg e da KBH&C. Para Jones, isso não é tudo. “Ainda não vimos nem a metade do que está por vir. Muita coisa pode acontecer nos próximos dois anos.”
(Gazeta do Sul, 11/06/2010)