A Assembleia Ambiental da cidade de Gualeguaychú reivindicou hoje ao governo argentino que retire as ações civis e penais contra seus dirigentes pelo bloqueio da ponte binacional, que liga a localidade à uruguaia Fray Bentos.
Mais cedo, o chefe de gabinete do governo, Aníbal Fernández, insistiu que a Justiça deveria assumir a responsabilidade e tomar decisões em relação a cada um dos ativistas que mantêm a mobilização em Gualeguaychú contra a fábrica de pasta de celulose UPM (ex-Botnia) há mais de quatro anos.
"O juiz terá que atuar. Em algum momento vai processá-los e, se eles insistirem, vai ordenar detê-los", afirmou Fernández, que mencionou ainda o dirigente do Partido Comunista Revolucionário, Juan Ferrari, a quem qualificou como um "produtor de soja que tem responsabilidade" pelo protesto.
"Não daremos um passo atrás em nossa luta", responderam os ambientalistas horas depois e pediram "a retirada das medidas adotadas " pelo governo argentino.
Hoje, os ambientalistas se concentraram em frente à prefeitura de Gualeguaychú para entregar um documento ao prefeito Juan José Bahillo, no qual eles manifestavam "a luta pacífica pelo meio ambiente diante de um empreendimento ilegal como a Botnia [atual UPM, ndr.] como foi definido pela própria Corte Internacional de Justiça, de Haia".
No texto, a assembleia também expressou "repúdio e preocupação pela decisão de governo de perseguir penal e civilmente os vizinhos de Gualeguaychú, que lutam contra a instalação ilegal da (fábrica)".
No mesmo documento, a entidade ainda criticou o governo da presidente Cristina Kirchner, porque "ao invés de endereçar todas as energias políticas contra o feito que origina nossa reivindicação, mostrar severidade e firmeza frente ao governo do Uruguai -- que foi quem originou este conflito infeliz --, articulando ações legais, políticas e diplomáticas, pretende-se amedrontar-nos, criminalizar o protesto e perseguir a quem unicamente defendeu pacificamente nossos direitos em um protesto social justo".
Para os ambientalistas, o governo argentino "se ergue mais em defesa dos investimentos estrangeiros absolutamente ilegais que do bem-estar de seus vizinhos, já afetados pela contaminação de Botnia".
Já o prefeito de Gualeguaychú garantiu que irá se comprometer a "insistir" e "trabalhar" ativamente, redobrando esforços para que as soluções a este desacordo se resolvam no âmbito da política".
No último mês de abril, a Corte Internacional de Haia julgou o processo apresentado pela Argentina contra o Uruguai, justamente pela instalação da fábrica na região da fronteira. Embora tenha reconhecido que o governo uruguaio violou o Tratado do Rio Uruguai, que rege a administração da área, os magistrados consideraram que a empresa não é poluente, como denunciam os manifestantes.
Desde então, Argentina e Uruguai mantêm discussões pelo fim do bloqueio, que afeta diretamente a economia da pequena localidade de Fray Bentos. (ANSA)
(Ansa, 10/06/2010)