Previsão foi apresentada por especialistas em meio ambiente reunidos no XII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, em Goiás Velho
A ação do homem deve provocar o aumento da temperatura mundial antes do previsto por especialistas. É o que afirma a Presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn. Segundo a especialista, se a emissão de dióxido de carbono (CO2) continuar na progressão atual, o planeta vai ficar 2ºC mais quente em apenas 20 anos.
“2º C é o limite para termos alterações climáticas ainda suportáveis ou adaptáveis, baseadas nos recursos atuais de tecnologia”, alertou Suzana. A questão foi apresentada na primeira mesa do Fórum Ambiental do XII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), que começou nesta quinta-feira, 10 de junho. O tema do fórum, que segue até sábado, é Mudanças Climáticas e Biodiversidade.
A emissão anual de CO2 é de 40 milhões de toneladas ou 40 gigatoneladas (Gt). A tendência, segundo a especialista, é que o índice aumente para 70 Gt até 2100. A taxa significa um aumento de 7ºC na temperatura global. “Para evitar o aquecimento elevado, a emissão atual teria de ser reduzida pela metade. Nesse caso, a projeção é de que a temperatura aumente 2ºC daqui a 90 anos, o que é uma meta razoável e garante a segurança da vida na Terra”, explica a pesquisadora.
O professor José Alexandre Filizola, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), destaca o papel dos cientistas na luta contra o aquecimento global. “O que nós fazemos é tentar compreender a complexidade das previsões para trabalhar melhor com elas”, explica. Para o professor, a realidade das mudanças climáticas é conhecida apenas em termos de tendências. “Os resultados finais não são conhecidos nos detalhes, por isso precisamos construir modelos cada vez mais próximos da realidade para se precaver de quadros desastrosos”.
Já o moderador do Fórum Ambiental, Marcel Bursztyn, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB, ressaltou a importância de considerar as mudanças climáticas naturais como parte do aquecimento global. “O clima muda ao longo de eras. Isso é normal. O que não é normal é o curto espaço de tempo em que está mudando”, pontua. Para o professor, é importante a consciência individual sobre ações rotineiras que não são pensadas de forma sustentável. “O impacto geral é uma soma dos impactos individuais”, afirma.
POLÍTICAS PÚBLICAS – Marcel destaca a oportunidade que o Fica oferece de aproximar temas complexos, normalmente discutidos entre cientistas, do grande público. “Os participantes do Fica estão atentos à questão ambiental, mas não necessariamente conhecem os caminhos para ter atitudes que possam contribuir com o tema”, explica. “Ainda é difícil convencer as pessoas de que entrar no debate científico pode ser uma atividade produtiva”, completa.
O especialista afirma que as políticas de conscientização da população sobre o meio ambiente devem partir do poder público, amparado pelo respaldo técnico da produção acadêmica. No entanto, Marcel acredita que ainda não existe uma comunicação efetiva entre as partes. “Há um abismo entre as políticas, os instrumentos e as práticas”, aponta o professor.
A professora Mariana Telles, da Universidade Federal de Goiás (UFG), também não vê a preocupação de políticos em se inteirar sobre o tema. “O conhecimento já existe e precisa virar políticas públicas”, declara. “Para que os governantes tenham segurança na tomada de decisões, precisamos colocar a ciência ao alcance de todos” completa ela, que elogiou o debate no primeiro dia do Fórum.
(Por Thais Antonio, da UnB, Envolverde, 10/06/2010)