“Petrobrás detecta vazamento de petróleo na Bacia de Campos”. Esta a manchetinha da agência de notícias espanhola, EFE, em breve nota nesta terça-feira dia 8 de Junho, bem cedo. “Incidente junto à costa fluminense, segundo a empresa, já foi controlado”, acrescentava a EFE.
Sempre atenta ao noticiário, a jornalista Eliège Fante apressou-se em enviar a novidade aos colegas ecojornalistas brasileiros e internacionais. Era, então, de se esperar uma cobertura ao menos razoável deste incidente por parte da grande mídia corporativa gaúcha e nacional.
Afinal, permanece nas manchetes diárias o grave desastre ambiental nos Estados Unidos, o mais grave da turbulenta História daquela nação, cobrindo de óleo e dispersantes altamente tóxicos o litoral e as praias de ao menos quatro estados norte-americanos, sendo a Flórida o mais conhecido dos turistas brasileiros.
Mas, ao menos na mídia gaúcha, a notícia da Bacia de Campos passou em brancas nuvens. E isso que tanto a “moderna” Zero Hora bem como o vetusto Correio do Povo continuaram cobrindo, em suas edições desta quarta, 09 de Junho, a tragédia do Golfo. ZH, inclusive, dedica nas suas páginas iniciais, as 4 e 5, duas matérias fartamente ilustradas sobre o desastre, sob a manchete: “Flagrantes do desastre. Inferno em alto-mar”.
Mais comedido, ou com menos espaço – como queiram – o Correio do Povo, nas páginas internacionais, destaca: “Há um segundo vazamento no Golfo”. E acrescenta, em telegrama desde Nova Orleans: “O jornal The Press Register, do Estado do Alabama, nos EUA, afirmou ontem haver um segundo vazamento de petróleo no Golfo do México. É na plataforma Ocean Saratoga, operada pela Diamond Offshore Drilling. (...) Já haveria no mar mancha de 16 quilômetros de extensão”.
Pois, apesar de todas estas notícias de impacto, o incidente reportado pela agência EFE não mereceu uma mísera linha da mídia impressa gaúcha.
O vazamento foi de cerca de 1.500 litros de petróleo, perto de uma das plataformas da Petrobrás nas águas da Bacia de Campos. Já controlado, o vazamento foi localizado a 160 quilômetros da costa da cidade fluminense de Macaé, nas proximidades da plataforma P-47, explicou a Petrobrás em seu comunicado. O vazamento aconteceu antes do começo de transferência do petróleo.
E a empresa ativou em seguida o protocolo de emergência para evitar riscos ambientais e aos seus funcionários. Um helicóptero e quatro embarcações foram utilizados para o controle do vazamento. Foi constatado posteriormente que não havia resíduos de petróleo no litoral do Estado do Rio de Janeiro, conclui a breve nota da agência espanhola de notícias.
Um exercício visual mostra extensão do desastre nos EUA
Agora, proponho um rápido exercício visual, só para se ter uma idéia aproximada do tamanho do desastre ecológico na área do Golfo, após a explosão da plataforma operada pela British Petroleum (BP), na madrugada de 21 de Abril passado. Hoje, dia 09 de Junho de 2010, nos Estados Unidos, a mancha de petróleo e dispersantes químicos despejados no litoral dos EUA cobriria, no Brasil, toda a extensão do Estado do Rio de Janeiro e boas partes dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. É uma vasta área. E dá apenas uma pálida idéia do tamanho da encrenca em que estão envolvidos, mais além da BP e das mais altas autoridades dos EUA, toda uma área de preservação e um santuário de espécies marinhas, peixes e crustáceos e aves. Como os pelicanos vistos nas tevês mundiais a morrer aos poucos, totalmente cobertos de petróleo.
Serão necessárias algumas décadas para limpar por completo o meio ambiente afetado naquela região dos EUA, dizem as autoridades. “A BP insultou o povo norte-americano”, afirmam parlamentares responsáveis pela comissão de inquérito que investiga o desastre ambiental.
Durante o recente 4º Congresso Brasileiro de Oceanografia, realizado nas dependências da FURG, na cidade marítima de Rio Grande, o professor carioca Luiz Henrique de Figueiredo já havia destacado: um derramamento de petróleo no litoral brasileiro, semelhante ao que se verifica hoje, nos EUA, seria altamente desastroso. (Ver: Brasil: vazamento de petróleo no litoral preocupa”, notícia desta EcoAgência do dia 26 de Maio de 2010).
Segundo o especialista, PhD em Química Ambiental, falta ao Brasil um Plano Nacional de Contingências capaz de prevenir, durante a futura exploração das camadas de pré-sal, qualquer desastre similar ao que agora devasta o Sul dos Estados Unidos. Os oceanógrafos brasileiros estão preocupados: uma exploração adequada da área do pré-sal vai demandar, da Petrobrás e de seus parceiros, altos investimentos em tecnologia de ponta. Para extrair com toda a segurança a imensa riqueza ali depositada. E, finalmente, para que esta riqueza nacional seja distribuída de maneira eqüitativa à ampla maioria de cidadãos e cidadãs brasileiros.
(Por Renato Gianuca, EcoAgência, 10/06/2010)