A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva oficializou nesta quinta-feira sua candidatura à presidência pelo Partido Verde (PV) com um elogio às políticas sociais do “operário” Luiz Inácio Lula da Silva, mas acrescentou que ainda existem “erros e desafios”.
"Eu não preciso, agora que sou candidata por um outro partido, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva", disse Marina, referindo-se à redução da pobreza nos últimos anos.
Segundo ela, o governo Lula tirou 25 milhões de pessoas da pobreza, "o que não é pouca coisa".
"Ele mostrou que é possível distribuir o bolo e ainda continuar crescendo", disse a candidata, durante a convenção do PV, em um centro de convenções de Brasília.
Feito o elogio, Marina acrecentou que "não poderia deixar de falar dos desafios e dos erros a serem corrigidos". Um deles, segundo ela, é o da "desigualdade de oportunidades".
"Esse país ainda tem 18% de seus jovens analfabetos. Eu sei o que é ser analfabeta, eu sei o que é ver pela metade", disse Marina, que começou a aprender a ler e a escrever apenas aos 16 anos.
Momentos antes do discurso de Marina, uma supresa: um homem vestido de palhaço fazia uma apresentação no palco com sátiras ao presidente Lula, até descobrirem que se tratava de um penetra - que acabou sendo retirado do auditório por seguranças.
Plebiscito
A ex-senadora aproveitou seu discurso para criticar a idéia de que a disputa eleitoral este ano será plebiscitária - ou seja, com uma escolha entre a aprovação ou não ao governo Lula.
De acordo com esse raciocínio, os que aprovam Lula votariam em Dilma Roussef (PT), enquanto os insatisfeitos ficariam com José Serra (PSDB).
"Não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro", disse.
Marina disse também que sua candidatura começa sem alianças, a não ser "com o povo que está em casa".
"As pessoas têm me cobrado que nós não temos política de aliança", dizendo que isto seria um "velho cálculo pragmático".
Desafios
Apesar de levantar bandeiras que costumam ser simpáticas ao eleitorado, como a defesa do meio ambiente e "um novo jeito" de fazer política, a candidatura de Marina Silva deverá enfrentar importantes desafios.
Um deles é se fazer conhecida. De acordo com um levantamento do Ibope realizado em fevereiro, 31% entrevistados disseram nunca ter ouvido falar na ex-senadora. Quanto a José Serra (PSDB) essa parcela era de apenas 1% e em relação a Dilma Rousseff (PT), 10%.
O desafio torna-se ainda mais complexo diante do tempo de rádio e TV a que Marina Silva terá direito: os números ainda não são oficiais, mas a estimativa é de que ela terá aproximadamente um minuto de exposição na propaganda eleitoral gratuita. Dilma deverá ter direito a 10 minutos, e Serra, cerca de 8 minutos.
Outro obstáculo deverá ser o de evitar a polarização da disputal eleitoral entre Serra e Dilma, dois candidatos relativamente conhecidos da população e que estão à frente nas pesquisas.
Para muitos analisas, a forte popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a transformar a eleição deste ano em uma disputa plebiscitária, o que prejudicaria a candidatura de Marina.
(Por Fabrícia Peixoto, BBC Brasil, 10/06/2010)