Três em cada quatro trabalhadores libertados de condições semelhantes a de escravidão são negros ou pardos. É o que confirmou a pesquisa do professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Paixão. O estudo foi feito a partir do cadastro desses trabalhadores no programa Bolsa Família, incluídos no benefício depois de libertados.
A constatação da pesquisa não foi recebida com surpresa pela coordenadora do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Maria Aparecida da Silva Bento. Segundo ela, o estudo expressa que o racismo ainda determina o tratamento dispensado para brancos e negros no Brasil.
“É uma situação impensável. O Brasil é um país que não aprende com sua própria história, que não faz sua lição de casa para uma sociedade mais democrática. Tem um grupo que sustenta este país que são trabalhadores negros. Me assusta como a sociedade ainda finge que não percebe o racismo.”
No estudo de Marcelo Paixão, 73,5% dos 40 mil trabalhadores libertados entre os anos de 2003 a 2009 declararam ser negros ou pardos. Para o pesquisador, a cor da pele não determina, mas aumenta as chances de um trabalhador se deparar com jornadas exaustivas e condições insalubres de trabalho.
Já para Maria Aparecida, ao passo que os negros estão condicionados ao trabalho escravo, os brancos estão em cargos de comando no Brasil.
“O que tem do outro lado? Só brancos na direção. O grupo que dirige o país – sejam as empresas, as universidades, os governos – finge que já superamos racismo e que temos que deixar de falar sobre raça.”
(Radioagência NP, Por Aline Scarso, EcoDebate, 10/06/2010)