Há seis anos, o Ministério da Saúde regulamentou, por meio da portaria 442/2004, o tratamento do tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, apenas quatro municípios mineiros (Juiz de Fora, Varginha, Pouso Alegre e Divinópolis) têm programa efetivo.
De acordo com estatísticas, Uberlândia tem atualmente cerca de 122 mil fumantes com idade acima dos 10 anos, o que corresponde a 19,3% da população. Muitos deveriam encontrar auxílio nas unidades públicas de saúde para deixar o vício. No entanto, quando procuram apoio para começar um tratamento, o que encontram é uma longa fila de espera.
Em Uberlândia, o programa existe apenas no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro Tibery, mas não é considerado eficiente, uma vez que nem todos os mecanismos preconizados pelo ministério estão em funcionamento.
A recomendação é que a estrutura tenha uma equipe formada por quatro profissionais (médico, enfermeiro, psicólogo e farmacêutico), no entanto, o Caps disponibiliza apenas dois (médico e psicólogo). Os remédios, que funcionam como coadjuvantes no tratamento que demora aproximadamente um ano, também estão em falta. De acordo Lúcia Mendonça de Paula Maia, psicóloga responsável pela ação no Caps do Tibery, os medicamentos específicos para o tratamento acabaram há um ano.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada seis segundos uma pessoa morre no mundo, vítima do cigarro. A OMS alerta que se não forem tomadas medidas preventivas, até 2030, 8 milhões de pessoas terão perdido a vida por causa do vício.
Técnico não sabia da falta de remédios
O coordenador técnico da rede municipal de Saúde, Adenilson Lima e Silva, informou que tomou conhecimento sobre a falta dos medicamentos nesta semana. “Reconhecemos a insipiência do sistema. Mas a secretaria se compromete a descentralizar o programa e estendê-lo até o fim do ano a pelo menos mais cinco unidades, uma em cada setor de Uberlândia - sul, oeste, leste, centro e norte.”
Na Gerência Regional de Saúde (GRS), da Secretaria Estadual, a informação de Luciana Costa Oliveira Vieira, referência técnica em prevenção primária do câncer da GRS de Uberlândia, é que o órgão não tinha conhecimento da falta do remédio e que a demanda será repassada ao Ministério da Saúde, uma vez que o pedido deve sair da própria gerência.
Apenas um centro tem o atendimento
Mesmo sem os medicamentos que auxiliam no tratamento de pessoas que querem abandonar o vício, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do Tibery, por meio das reuniões, dá aos interessados auxílio psicológico, orientações e informações sobre os efeitos do tabaco. “Os grupos são formados e no máximo 15 pessoas acompanham as reuniões, que a princípio, acontecem semanalmente. Desde o início do programa, há três anos, 465 pessoas participaram dos encontros e pelo menos 20% largaram o vício”, disse Lúcia Mendonça.
O número de beneficiados poderia ser bem maior se o programa fosse estendido a outras unidades públicas. Atualmente, mais de 70 pessoas estão na lista de espera. “Elas poderiam ser assistidas em unidades do próprio bairro, no entanto, há casos em que a espera pode chegar a um ano e o viciado acaba desistindo”, disse a psicóloga.
Após 3 meses, usuária cansou da espera
A demora em obter uma vaga no grupo de tratamento fez com que a dona de casa Solange de Fátima Miranda desistisse depois de ir à primeira reunião. “Demorou para [me] chamar e quando veio o convite também senti dificuldade em ter que pagar a passagem do ônibus semanalmente.”
A filha de Solange aguarda há três meses o telefonema que ela acredita ser o início de uma mudança de vida. Fumante há 15 anos e consumindo pelo menos um maço de cigarros por dia, não conseguiu deixar o vício sozinha. “Fui atrás de ajuda e espero não desistir desse objetivo, independente da demora para começar o tratamento.”
Falta interesse das unidades, segundo GRS
De acordo com Luciana Costa Oliveira Vieira, da Gerência Regional de Saúde (GRS), anualmente são enviados e-mails para as unidades básicas de saúde da cidade com o intuito de divulgar o programa antitabagismo e incentivar a implantação nos bairros. “É feito o convite [aos profissionais], no entanto, não há interesse da própria unidade em capacitar os profissionais e dar início ao programa.” Ainda de acordo com Luciana, não existe exigência do Ministério da Saúde, por isso nem todas as unidades aderem à proposta.
(Por Andréia Candido, Correio de Uberlândia, 09/06/2010)