Foi-se o tempo em que havia uma dicotomia entre construir e preservar. No passado, muitos defendiam que respeitar o meio ambiente significava barrar o desenvolvimento urbano nas cidades. Hoje, o papel se inverteu. Preservar o meio ambiente virou sinônimo sim de promoção do desenvolvimento e da qualidade de vida urbana - mesmo que algumas posições ainda proclamem o contrário. Por exemplo, as construções sustentáveis hoje são cada vez mais necessárias como negócio rentável e responsável. A gente usa os recursos disponíveis de maneira correta e salvamos as gerações futuras das mudanças climáticas ocasionadas pela ação humana. Estudos comprovam que escolas edificadas com o aproveitamento da luz natural, melhoram em 40% o desempenho de alunos e professores, reduzem em 70% os resíduos sólidos promovidos pela construção civil e diminui em 24% o consumo de energia.
Essa realidade ainda engatinha pelo mundo, mas precisa ser aplicada no Brasil e particularmente aqui em Porto Alegre. Precisamos transformar nossas intervenções ao meio ambiente de forma positiva e saudável, sem que ela um dia se volte contra nós. Preocupado com isso, propus à mesa diretora da Câmara Municipal, a criação de um Fórum Metropolitano de Mudança Climática e Biodiversidade com o objetivo de discutir localmente os problemas ambientais de Porto Alegre e demais cidades do entorno e traçar, em conjunto com a sociedade, soluções para os micro espaços. Queremos, em conjunto com outros municípios, resolver o problema da mudança climática, incentivar ações de cooperação, traçar diagnósticos e elaborar estratégias de mitigações e metas para equacionar ou conter as futuras catástrofes climáticas com grandes impactos sociais, econômicos e ambientais da região metropolitana. É importante ressaltar a participação de todas as esferas do governo nisso, junto com organizações não-governamentais, empresas, universidades e institutos de pesquisas na implementação destas políticas.
Além disto, objetivamos com o Fórum, formular e integrar normas de planejamento urbano e uso do solo com a finalidade de estimular a mitigação de gases de efeito estufa - promovendo assim estratégias de adaptação aos seus impactos. E para tudo isso se concretizar, são necessários mais priorização da circulação do transporte coletivo ao individual, investigação e monitoramento dos fatores de risco à vida e à saúde decorrentes das mudanças do clima - preservando assim a saúde pública do município, requalificar as áreas habitacionais insalubres e de risco, recuperar - através de programas -, áreas degradadas em zonas de proteção aos mananciais e em regiões de preservação permanente, proteger a biodiversidade e promover a arborização das vias públicas municipais - com a ampliação das áreas verdes e de unidades de conservação.
É um longo caminho e uma tarefa permanente de preservação e conscientização da população. Já estamos traçando nossa história e fizemos isso com projetos que dão destino adequado a óleos e gorduras, e com outro que incentiva o desenvolvimento da apicultura e da melicultura. A capital gaúcha precisa preservar e cuidar de sua mata nativa, ter eficiência ecológica e conscientizar a população de que reaproveitar e reciclar são lemas pra vida inteira. Se quisermos uma cidade próspera, teremos que mudar os hábitos milenares e conservar nossas praças e espaços públicos, pois uma cidade do futuro é sim aquela que respeita e convive em harmonia com o seu meio ambiente.
(Por Adeli Sell, especial para o Ambiente JÁ, 09/06/2010)