As fotografias destas páginas são as mais impactantes imagens da transformação de uma plataforma de extração de petróleo em inferno no mar. Foram captadas por quem estava por perto, em embarcações acionadas pelos pedidos de socorro enviados da Deepwater Horizon, na madrugada de 21 de abril passado. Depois da explosão de uma sonda de perfuração, com a morte de 11 funcionários, a gigantesca estrutura da empresa petrolífera BP começava a arder, no Golfo do México, a 80 quilômetros da costa da Louisiana, nos Estados Unidos. A catástrofe tomava forma.
As fotos foram divulgadas pelo National Geographic Channel. Revelam pela primeira vez o que aconteceu em alto-mar, do momento em que a plataforma pega fogo até afundar na água, no segundo dia. Foram 36 horas de flagrantes que o canal (da TV por assinatura) mostrará em forma de documentário. Com depoimentos de sobreviventes e de pessoas envolvidas nas tentativas de socorro, Anjos do mar: Golfo do México em chamas será exibido amanhã, às 20h.
Imagens como essas, só agora conhecidas, repetem o que é comum em tragédias de repercussão mundial. Como aconteceu quando do atentado contra as torres gêmeas de Nova York, em 2001, e em tantos outros fatos que ainda hoje provocam comoção, também agora somos confrontados, muitos dias depois, com a geração do horror. Mais uma vez, capta-se o exato instante – como o momento em que a plataforma aderna – pelo olhar de quem tem uma câmera na mão. No caso da plataforma que afundou no Golfo do México, o jornalismo foi exercido pelos protagonistas.
Destruição de forte impacto
O acidente continua manchando o mar, depois de tentativas frustradas de estancar o vazamento de petróleo. O fracasso das operações prenuncia que, daqui a alguns dias, outras imagens de impacto devem se juntar às fotos destas páginas. Entre 12 mil e 19 mil barris de petróleo contaminam o mar, todo dia, no que o presidente americano, Barack Obama, definiu como “um desastre nacional”. É muito mais do que isso. É bem mais do que uma ameaça ao turismo da Flórida, à economia, às atividades pesqueiras, à fauna marinha. É uma destruição com impacto para muito além da costa e da abalada autoestima americana.
O que vemos nestas páginas é a origem do acidente. O que já estávamos vendo, nas últimas semanas, com a divulgação de imagens de aves que o petróleo transformou em monstros sem forma definida, é apenas a sequência de uma catástrofe ambiental. Pode-se prever que, infelizmente, ainda não vimos tudo.
(Por Moisés Mendes, Zero Hora, 09/06/2010)