Lideranças de quilombos do Espírito Santo, da Bahia, do Pará, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Tocantins, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e Paraíba, entre outros, encontram-se em Registro, no Vale do Ribeira (SP) para debater propostas e diretrizes voltadas ao turismo em seus territórios, atividade de grande potencial para desenvolver as comunidades quilombolas. O evento iniciado na noite desta segunda-feira (7/6), encerra-se na quinta-feira (10/6).
Com o mote “Quilombos do Brasil de portas abertas para o Mundo”, abriu-se o I Encontro Nacional de Turismo das comunidades quilombolas, no Hotel Estoril, em Registro (SP), na noite desta segunda-feira (7/6). Região que concentra a maior área contínua remanescente de Mata Atlântica no Estado de São Paulo, o Vale do Ribeira foi escolhido para sediar o encontro por além disso abrigar o maior número de comunidades quilombolas do Brasil. O Vale do Ribeira considerando sua porção paulista e paranaense tem 79 quilombos.
Quilombolas de Monte Alegre (ES) desembarcam do ônibus em Registro depois de enfrentar mil quilômetros de estrada
Representantes de órgãos governamentais, de ONGs e lideranças quilombolas, revezaram-se dando as boas vindas aos cerca de 100 participantes, lembrando o desafio do encontro, de propor diretrizes que se transformem em políticas públicas voltadas para o turismo sustentável nas comunidades quilombolas.
O coordenador do programa Vale do Ribeira do ISA (uma das instituiõçes organizadoras do encontro), Nilto Tatto, saudou os participantes e lembrou o desafio de elaborar propostas para o desenvolvimento das comunidades especialmente neste momento delicado, quando o decreto presidencial de 2003, que regulamentou a titulação das terras quilombolas conforme previsto na Constituição Federal de 1988, está ameaçado por uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin), do DEM (ex - PFL). O decreto vem sendo questionado e está em vias de ser julgado agora pelo STF. “É um bom momento para pensar no turismo como alternativa para as comunidades e de reflexão e atenção à questão do território. Sem terra, não tem turismo nem desenvolvimento”.
Fandango anima a noite e encanta a todos
Também falaram na abertura, o representante da Fundação Cultural Palmares, Maurício Reis, a diretora de programas para comunidades tradicionais da Seppir, Ivonete Carvalho, a representante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Maria Auxiliadora Lopes, que trabalha especificamente com educação das relações raciais, a representante do Itesp, Maria Ignez Maricondi, o prefeito de Eldorado, Donizete de Oliveira, a prefeita de Registro, Sandra Kennedy, o representante do quilombo de Ivaporunduva, Denildo Rodrigues e o representante do quilombo de Monte Alegre (ES) Leonardo Ventura.
Os pares dançam o fandango batendo os pés ao som da rabeca, viola e da voz do cantador
Uma apresentação de Fandango realizada por integrantes da comunidade de Morro Seco, no Vale do Ribeira, animou os participantes e se juntarem aos dançarinos, batendo mãos e pés com eles. O fandango é uma manifestação cultural tradicional, que teve origem na Idade Média, em Portugal e Espanha. Pares se formam e dançam ao som de uma rabeca (um instrumento semelhante ao violino), de violas e de um cantor. Os homens pontuam a dança com uma espécie de sapateado, batendo seus tamancos contra o assoalho.
Leonardo Ventura apresenta as atividades de turismo do quilombo de Monte Alegre
Nesta terça-feira (10/6), nove comunidades apresentam as experiências e atividades que desenvolvem em relação ao turismo, a saber: Monte Alegre (ES), Ivaporunduva (SP), Campinho da Independência (RJ), Cacau (PA), Boitaracá/Nilo Peçanha (BA), Mumbuca/Mateiros (TO) e Mituaçu (PB). Um estande foi montado para mostrar os trabalhos artesanais trazidos pelas comunidades Boitacará (BA), Monte Alegre (ES), Cacau (PA) e Sapatu (SP).
Logo depois da apresentação do quilombo de Monte Alegre, o deputado Vicentinho (PT-SP), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Quilombos veio dar seu abraço aos quilombolas e aos participantes do Encontro lembrando sua importância enquanto alternativa de desenvolvimento sustentável das comunidades Vicentinho saudou seus “irmãos” e companheiros e falou de sua preocupação em relação ao julgamento pelo STF da Ação Direta de Inconstitucionalidade e que deverá ocorrer em breve. “Não haverá a audiência pública solicitada pelas comunidades e por isso é preciso muita mobilização para defender o decreto”.
O deputado Vicentinho, presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Quilombos, ladeado pelos participantes do Encontro
O I Encontro de Turismo nas comunidades quilombolas está sendo organizado pelo ISA, Ministério da Educação, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Fundação Cultural Palmares, Ministério do Desenvolvimento Agrário,. Ministério do Turismo e Ministério do Meio Ambiente e conta com apoio do Sebrae-SP, PM-REGISTRO, Itesp, SMA-SP/Fundação Florestal.
(Por Inês Zanchetta, ISA, 08/06/2010)