Criado em 1992, o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) está expandindo seus métodos de trabalho para outros países em desenvolvimento. Foi o que disse André Vilhena, diretor da ONG, durante o seminário "Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos", realizado na Escola Politécnica da USP (Poli-USP).
Segundo ele, isso ocorre porque se vive um contexto positivo para a reciclagem e o meio ambiente: "Felizmente o tema reciclagem hoje está na pauta", declarou, "quando a gente começou com reciclagem há 18 anos, cada palestra reunia apenas um punhado de pessoas, a gente falava para ninguém".
Presente em países como Argentina, México, China e Rússia, seu modelo de trabalho foi recentemente exportado para a Tailândia: no final de 2009, foi inaugurada a primeira cooperativa de catadores em Bangkok. Apesar do cenário animador, André reconhece que há ainda avanços a serem feitos, sobretudo no que se refere à coleta de lixo orgânico.
Formado pela associação de empresas de diversos setores, o CEMPRE se dedica a promover e difundir pesquisas e informações acerca da reciclagem, sobretudo no que se refere ao tratamento de resíduos sólidos urbanos. De acordo com Vilhena, o modelo de trabalho adotado inclui preocupações sociais, que interessam aos demais países em desenvolvimento. No Brasil, como em grande parte desses países, a coleta do lixo urbano conta com expressiva participação dos catadores: “O catador é o principal responsável pela coleta seletiva. Por causa dele, o Brasil tem índices altos de reciclagem de certos materiais, como alumínio".
Segundo André, o objetivo é dar auxílio às cooperativas, doando equipamentos e auxiliando na comunicação com a vizinhança: "Queremos transformar as cooperativas em pequenos empreendimentos auto-sustentáveis. Temos que fugir de políticas tributárias de incentivo, e buscar transformá-las [as cooperativas] em empreendimentos sustentáveis". No Brasil, o CEMPRE apóia cerca de 600 cooperativas e 15 mil catadores.
Apesar dos esforços, a coleta do lixo nas cidades brasileiras ainda precisa passar por mudanças: a maior parte do lixo urbano produzido no Brasil ainda é matéria orgânica. Levada para lixões ou aterros sanitários, a decomposição desse material gera metano, liberado na atmosfera, e chorume, que pode contaminar lençóis freáticos. "Nosso desafio é coletar e fazer a compostagem da matéria orgânica", alerta Vilhena. Segundo diz, "pouco tem sido feito, em termos de políticas públicas, em relação à compostagem. Preocupa-se muito com a reciclagem."
(Por Rafael Ciscati, Agência Universitária de Notícias/USP, EcoAgência, 07/06/2010)