Com o fechamento do aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, todo o lixo gerado na região metropolitana do Rio será descarregado no bairro de Chaperó, no município de Seropédica. A área de 170 hectares, formada por campos e bosques, fica localizada em cima do Aquífero de Piranema e abrange vários cursos d´água.
A possibilidade de contaminação do aquífero tem preocupado a comunidade, que tem organizado protestos e abaixo-assinado contra a obra, e encontra firme oposição de especialistas em meio ambiente. A engenheira agrônoma Rosângela Straliotto, que faz parte do conselho ambiental da cidade de Seropédica, considera que a inauguração do aterro colocará em risco até mesmo o abastecimento de água do Rio de Janeiro, em situações de emergência.
“A minha posição é embasada nos relatórios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) sobre os estudos dessa área, através do departamento de geologia. A área possui em seu subsolo o terceiro maior aquífero do Rio de Janeiro, de água límpida e potável. Somente na área do aterro têm dois rios e mais três nascentes. É uma região de baixada em que os rios descem da serra limpos, sem poluentes. A área é, tecnicamente, inviável para a colocação desse tipo de empreendimento”, frisou Rosângela.
Segundo a engenheira agrônoma, o local é sujeito a inundações em época de chuva, o que faz o lençol freático subir, fazendo as nascentes transbordarem, o que poderia provocar vazamento de lixo. Ela considera que as medidas de proteção para o futuro aterro não são garantia contra acidentes ambientais, pois o solo abaixo é arenoso e absorveria rapidamente a poluição.
“É simplesmente inaceitável que o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) tenha dado a licença de instalação para um empreendimento nessa área, numa época em que se discute toda a questão da água e a preservação do meio ambiente”, criticou Rosângela.
O presidente do Inea, Luiz Firmino, garante que as medidas de segurança são suficientes para se evitar contaminação da área. “Não há a menor perspectiva de isso acontecer. O centro de tratamento está contando com o que há de mais moderno, gerenciado pela iniciativa privada. Com as medidas de precaução e de engenharia que estão sendo colocadas, não há a menor chance de contaminação desse aquífero [Piranema]”, afirmou.
Segundo ele, futuramente no local poderá se implantada inclusive uma usina de incineração, com geração de energia. Firmino destacou que atualmente existem seis aterros sanitários funcionando corretamente no estado: “Você visita um aterro sanitário e parece que está em uma empresa de mineração, não vê uma mosca sequer.”
O centro de tratamento de resíduos será gerenciado pela empresa Saneamento e Energias Renováveis do Brasil (Serb), que resultou da fusão das empresas Haztec e Grupo Julio Simões. Segundo a assessoria da Serb, todos os cuidados para evitar a contaminação do meio ambiente serão tomados, como a utilização de tripla impermeabilização de base reforçada, utilizando dupla camada de manta, além de sensores eletrônicos, monitoramento dos corpos hídricos e do lençol freático. Segundo a empresa, na segunda etapa do empreendimento haverá uma estação para tratamento de chorume, uma estação de tratamento de biogás e uma usina de produção de energia.
O aterro sanitário de Chaperó receberá 9 mil toneladas de lixo por dia, com uma vida útil estimada em 18 anos. A primeira fase da obra está prevista para ser inaugurada até dezembro deste ano.
(Por Vladimir Platonow, Agência Brasil, 06/06/2010)