No ano passado, e por sorte era Inverno, o Atlântico avançou sobre os calçadões, avenidas e ruas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. E, na esteira dos episódios de devastação, um edifício de quatro andares terminou desabando, em Capão da Canoa. Saldo: quatro mortes e alguns feridos. Digo que foi sorte: o saldo trágico poderia ter sido bem maior, fosse na estação de verão com o edifício lotado de turistas.
No final de maio deste ano de 2010, o mar avançou, ou retomou o espaço perdido para as construções, à sua beira. Foram várias casas de classe média, destruídas parcial pu totalmente, nas praias da Armação e da Barra da Lagoa, na capital catarinense Florianópolis.
Vários fatores contribuem para esta retomada dos oceanos do mundo todo de seus espaços perdidos para a insensatez humana: o efeito das marés, a natural movimentação das águas, é potencializado por construções de alto risco. Não só no litoral brasileiro como em todos os países costeiros.
A edição do jornal gaúcho Zero Hora do dia 27 de maio relatou mais esse incidente, com uma significativa fotografia de Guto Kuerten, do Diário Catarinense. A casa, inclinada à beira mar, quase caindo nas águas revoltas, é bem a imagem dessas construções em áreas de alto risco.
Elogiada por vários leitores do jornal, mereceu destaque e uma observação de Amilton Oliveira, da cidade de Gravataí: “Mais racional do que tentar conter o mar. É preciso impedir que se construa em locais impróprios”.
Para evitar incidentes como o de 2009 em Capão da Canoa e deste passado mês de maio em Santa Catarina, é necessária a ação imediata de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. No caso gaúcho, a Fepam deverá estar atenta à rápida erosão do litoral, em especial a parte Norte. Seria providencial tomar essas ações durante o desenrolar deste inverno. Para melhor garantir a segurança das multidões de turistas que, no próximo verão, deverão lotar as praias do RS.
Especialista cubano alerta sobre a erosão no litoral
Durante o recém concluído 4º Congresso Brasileiro de Oceanografia, realizado nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande, a FURG, uma das palestras mais assistidas e comentadas foi a do professor doutor Jose Luís Juanes Martí, do Instituto de Oceanografia de Cuba.
Depois de descrever o que está acontecendo em seu país e nos demais vizinhos do Caribe, Juanes Martí foi bem claro: a ação humana é a mais danosa das causas destas alterações nos litorais marítimos, a par das mudanças climáticas e de elevações dos níveis dos oceanos da Terra.
Entre as ações humanas, o especialista cubano citou a construção e a exploração de atividades de turismo à beira mar, com a destruição das dunas, além da extração de areia. Ele contou que em seu país já existem leis para disciplinar a distância das construções em relação à beira mar e às dunas. São atitudes tomadas para evitar a erosão, acrescentou.
Juanes Martí foi um pouco além: ao constatar o desequilíbrio entre investimentos turísticos e os programas nacionais para o turismo sustentável, o professor falou da erosão das praias cubanas, onde as ondas atacam as praias, colocam a areia em suspensão e geram correntes que transportam os sedimentos para muito longe da costa.
Em síntese: as paradisíacas praias do Caribe estão ameaçadas e suas areias cálidas podem desaparecer pelo impacto dos freqüentes furacões – em temporadas que começam agora em junho e se estendem até novembro – e pela elevação do nível do mar. Sem esquecer a extravagante ação humana, as construções quase “dentro” do mar, como a casa da emblemática foto de Guto Kuerten.
(Por Renato Gianuca, EcoAgência, 06/06/2010)