A pretensão argentina de monitorar a fábrica de pasta de celulose UPM (ex-Botnia), localizada no Uruguai, foi o ponto que gerou mais "divergências" entre os presidentes de Argentina e Uruguai, Cristina Kirchner e José Mujica, admitiu o chanceler uruguaio, Luis Almagro.
Os dois mandatários reuniram-se na última semana para discutir uma agenda de 27 pontos, com o objetivo de restabelecer plenamente os laços bilaterais, após o conflito diplomático ocasionado pela instalação da fábrica UPM e que foi levado à Corte Internacional de Justiça, em Haia. O veredicto do tribunal foi anunciado no mês de abril.
Para o Uruguai, o pedido argentino de ingressar na fábrica instalada na localidade de Fray Bentos não faz parte das determinações da sentença de Haia.
Os magistrados concluíram que o governo uruguaio havia violado um tratado bilateral, que rege a administração do Rio Uruguai, assim como deveria ter informado a Comissão Administradora do Rio Uruguai (Caru, organismo binacional) sobre o procedimento.
Para o governo de Mujica, a decisão da corte em nenhum momento determinou a administração conjunta da companhia. Por isso, Montevidéu não está disposto a ceder, embora tenha considerado que pode-se chegar a um acordo, "que não implique uma violação de soberania", explicou Almagro à imprensa local.
"Esta é uma corrida de resistência, não de velocidade", expressou o chanceler, ao recordar que é a Direção Nacional do Meio Ambiente (Dinama) que tem jurisdição sobre o território nacional, ou seja, a entidade que pode realizar os controles dentro da fábrica.
O Uruguai não cede neste ponto enquanto a Argentina também não demonstra uma grande atividade em favor do fim do bloqueio da ponte internacional General San Martín, realizada há pelo menos quatro anos por ambientalistas da localidade de Gualeguaychú (no lado argentino da fronteira), o que causa grandes prejuízos econômicos aos vizinhos.
Ainda na reunião da quarta-feira passada, frente a pedidos de seu homólogo, Cristina não hesitou ao dizer que não iria recorrer à força para retirar os ativistas da ponte. "Isso não está em nosso DNA", disse na ocasião.
Por outro lado, as duas nações avançaram em outros temas, nas áreas de energia, defesa e saúde, firmando acordos e compromissos para o desenvolvimento de atividades conjuntas.
(ANSA, 05/06/2010)