O eucalipto tem carregado a fama de ser uma espécie que consome muita água. Este "consumo" de água em espécies vegetais é a capacidade das plantas em transferir a água armazenada no solo para a atmosfera. Também é comum ouvir que "o eucalipto seca o solo". Qual a origem desta constatação? Ela é confirmada pelo conhecimento científico atual?
Na busca de informações imparciais e confiáveis para ajudar a esclarecer esta mal resolvida relação entre água-eucalipto, a Área de Pesquisa da CENIBRA tem apoiado vários trabalhos (já foram concluídas sete teses de Mestrado e duas de Doutorado) que estudaram de forma direta e indiretamente aspectos relacionados ao uso de água pelo eucalipto.
Em um destes trabalhos, intitulado Modelagem do balanço hídrico em microbacia hidrográfica com plantio de eucalipto e concluído no fim do ano passado pelo Professor Alexandro Gomes Facco, como parte do trabalho de Doutorado na Universidade Federal de Viçosa, importantes informações foram obtidas. Durante três anos (2005 a 2007) em uma microbacia hidrográfica com eucalipto na região de Cocais, município de Antônio Dias, foram quantificadas todas as entradas e saídas de água deste ecossistema. Nesta microbacia foi construído um vertedor (para medições da vazão do riacho), além de instalados tubos para monitoramento do lençol freático. Foi feita também a medição do teor de água na camada de solo explorada pelo sistema radicular e construída uma torre para acesso à copa das árvores, onde foram realizadas medições da transpiração pelas folhas do eucalipto e instalados sensores para monitoramento de variáveis meteorológicas. Os resultados destes três anos de estudo mostraram que a precipitação pluviométrica anual (chuva) foi de 1299,0 mm. Deste total, 57,1% (741,0 mm) foi utilizado pelo eucalipto no processo de transpiração (que é a transferência de água do solo para atmosfera a partir da absorção pelo sistema radicular das plantas), 9,8% (128,0 mm) foi evaporada (evaporação é a transferência direta de água da superfície das plantas e do solo para a atmosfera). Entre 0,5 a 1,3 % (16,9 mm) foi escoada diretamente da superfície do solo e 31,8% (414,0 mm) infiltrou no solo e reabasteceu o curso d'água.
O que significam estes resultados? A interpretação das informações obtidas permite concluir que na região de Cocais o eucalipto não consome muita água. A transpiração de 741,0 mm anuais ou 2,03 mm por dia é semelhante a de outras espécies florestais e espécies agrícolas perenes. Do mesmo modo que a evapotranspiração (soma da transpiração com a evaporação), que foi de 869,0 mm ou 2,38 mm por dia. Também é possível afirmar que na região estudada, o eucalipto não seca o solo, pois houve um excedente de 414,0 mm por ano (31,8 % da chuva incidente). Este excedente não utilizado pelas plantas ao longo do ano foi utilizado para reabastecer o curso d`água. Além disso, a variação máxima observada na vazão do riacho foi de 8,0 % no período estudado, indicando que o sistema de reabastecimento do riacho estava bem regulado.
Este trabalho continua a ser conduzido e está sendo ampliado para mais quatro microbacias, duas na região de Belo Oriente e duas na região de Virginópolis. Estas regiões serão monitoradas áreas com uso predominante de eucalipto (duas microbacias) e de pastagem (duas microbacias), em cada uma.
(Cenibra News - Coordenação de Comunicação Corporativa, Junho 2010)