A fragilidade de Guatemala, El Salvador e Honduras, que formam o chamado Triângulo Norte da América Central, ficou evidente após a devastadora passagem da tempestade tropical Agatha, cujo saldo foi de quase 200 mortos e elevados prejuízos em infraestrutura. A soma de fatores, como pobreza e falta de planos de ordenamento territorial, derivaram em uma nova catástrofe regional, que afetou principalmente os mais pobres que vivem nas encostas dos montes ou à beira dos rios. A região já tinha o rótulo de “alto risco” diante de fenômenos naturais.
Segundo dados parciais dos três países, morreram 156 pessoas na Guatemala, 18 em Honduras e 11 em El Salvador. No primeiro, a tempestade, que dissipou em 30 de maio, deixou mais de 24 mil casas danificadas e os desabrigados, evacuados e refugiados somam mais de 400 mil pessoas. A busca por cerca de cem desaparecidos prosseguiam. Em Honduras e El Salvador foi decretado estado de emergência e as vítimas passam de 30 mil.
Para José Escribá, da Sociedade Geológica da Guatemala, a falta de um ordenamento territorial efetivo na região é a principal causa desta nova catástrofe. “Não há políticas sérias para saber onde se deve colocar a população. Todo mundo pensa que qualquer lugar é bom para viver, mas as tragédias demonstram o contrário”, em uma região com riscos por atividade vulcânica, falhas geológicas e montanhas, disse à IPS. A seu ver é necessário aplicar políticas e normas que delimitem áreas para moradia, florestas, indústrias e outros, bem como um plano para reassentar os mais pobres.
Com 13 milhões de habitantes, a Guatemala é um dos países mais pobres da América Latina. Metade da sua população vive em situação de pobreza, enquanto 17% está na indigência, segundo a Organização das Nações Unidas. Walter Wintzer, encarregado de Preparação e Resposta do Centro de Coordenação para a Prevenção de Desastres Naturais na América Central, disse à IPS que a pobreza é um fator determinante em uma catástrofe. O Centro de Coordenação para a Prevenção de Desastres Naturais na América Central é um órgão regional de caráter intergovernamental pertencente ao Sistema de Integração Centro-Americana.
“Uma pessoa sem dinheiro para comprar um terreno em local seguro vai morar em uma encosta”, disse. Em país algum da América Central existe uma lei de ordenamento territorial que os impeça, acrescentou. Wintzer apontou três aspectos fundamentais para prevenir e mitigar os desastres naturais, não sem antes esclarecer que são necessários recursos para atender a emergência. Além de normatizar a gestão territorial para delimitar as áreas para moradias, o especialista considera importante conscientizar formalmente crianças e jovens nos cursos primário e secundário sobre a prevenção de desastres. Por fim, é preciso compromisso político das autoridades para aplicar as leis e os manuais relacionados com a mitigação de riscos, afirmou.
A tempestade também deixou outras consequências sociais. O aumento dos preços das hortaliças e de grãos básicos, cujas plantações foram arruinadas pelas chuvas, agravará a crise alimentar, segundo organismos da ONU.
O prefeito de Tegucigalpa, Ricardo Álvarez, disse à IPS que foi possível salvar vidas. “Desde a passagem do Furacão Mitch, em 1998, a capital hondurenha, uma das mais devastadas, ficou em extrema vulnerabilidade”, reconheceu. Este Furacão deixou na região mais de dez mil mortos, enquanto a tempestade Stan, em 2005, deixou outras centenas de mortos, sem contar os milhões de pessoas que perderam casas e pertences. Carlos Sabillón, especialista em Desastres Naturais de Honduras, disse à IPS que os países centro-americanos devem se preparar para estratégias conjuntas de prevenção e mitigação. O acadêmico demonstrou sua preocupação porque a temporada de furacões está começando. A fragilidade da região ficou demonstrada após a passagem do Mitch, há doze anos, ressaltou.
Nos três países foram registrados graves danos à infraestrutura, devido a deslizamentos, transbordamento de rios e inundações. A natureza foi duplamente severa com a Guatemala, cuja população sofreu as consequências da erupção, em 27 de maio, do Vulcão Pacaya, ao sul da capital, que deixou um jornalista morto e a capital coberta de pó. O aeroporto só foi reaberto no dia 1º de junho.
(Por Thelma Mejía e Danilo Valladares, IPS, 4/6/2010)