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tratamento de esgoto política de reciclagem
2010-06-04 | Tatianaf

Em Porto Alegre, se desenvolvem projetos de universalização do tratamento de esgoto e uso de diesel com baixo índice de enxofre. Em todo o Estado se multiplicam propostas voltadas à reciclagem e reutilização de resíduos, como a transformação de sobras de couro em fertilizante e o beneficiamento de materiais oriundos da coleta seletiva. Da mesma forma, os produtos orgânicos conquistam espaço no mercado e fortalecem a economia de dezenas de milhares de famílias em todo o País, possibilitando sua permanência no campo e preservando a biodiversidade. Contudo, o equilíbrio térmico do planeta somente poderá ser restabelecido, no longo prazo, por meio de transformações profundas na relação do homem com o ambiente natural.

Na visão do professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da Ufgrs, o aquecimento global não deve ser enfrentado como se o sistema planetário estivesse doente – este tem 4,6 bilhões de anos e seguirá incólume o seu rumo, apesar da pegada do homem. Segundo ele, tampouco a espécie humana será extinta. A raiz e o alvo da crise é a própria civilização. Resistente em utilizar seu conhecimento para adaptar-se ao planeta, a humanidade empreendeu sua aventura civilizatória tratando de tornar-se a espécie mais apta a dominar a natureza. Considerando-se civilizado, o homem teria perdido a perspectiva de sua evolução. “Estamos imersos no processo civilizatório e ele tem de ser o nosso horizonte. Uma humanidade sem horizontes caminha para onde? Não sabemos. Pode ser para o abismo. Pode não ser”, alerta.

Segundo ele, um passo importante a ser dado é reaprender a viver de forma saudável nas cidades. “Viver hoje na cidade é viver em risco”, pontua. “Tudo nos diz que é bom mudar esse modo de existir, um modo de excessivo consumo, uma perda de consciência da existência da natureza e uma aposta cega na tecnologia”, diz Menegat, acrescentado que o aquecimento da Terra é um problema cultural – “a tecnologia não vai resolver”. Nesse sentido, considera a educação a principal ferramenta para a construção de uma nova cultura planetária, voltada ao não desperdício e à valorização da natureza.

Para o professor-associado do Departamento de Engenharia Civil da Ufrgs Luiz Antônio Bressani, as soluções possíveis passam pela mudança da matriz energética e da forma de utilizar a energia gerada. Sem diminuição dos níveis de consumo, a permanência do homem no planeta se tornaria inviável. “Os Estados Unidos consomem algo como dez ou 15 vezes mais energia do que um país razoavelmente desenvolvido. Se a gente quiser aquele padrão, não tem como. É o mais insustentável”, observa.

Um aspecto abordado tanto por Bressani quanto por Menegat é que as nações mais afetadas pelas consequências do aquecimento global são as menos desenvolvidas. “As populações mais pobres da África, que menos causaram mudanças climáticas, são as que mais vão sofrer com as mudanças”, ressalta Bressani. A fragilidade dessas populações, segundo Menegat, deve ser o foco das preocupações, tendo em vista que os fenômenos causados pelas alterações no clima resultam em enormes perdas materiais e humanas. “Estamos falando de 230 mil mortos por vez”, enfatiza. Bressani também questiona se os países mais desenvolvidos tomarão as medidas necessárias para evitar a tempo a catástrofe, uma vez que, localizados em climas temperados, não sentirão os efeitos do aquecimento na mesma intensidade que os países tropicais. “Eles vão ter mudanças, mas economicamente elas vão interferir menos, a curto prazo. A médio prazo, todo mundo vai ser afetado.”

Governança global é um desafio da crise
A convulsão social e as vultosas perdas econômicas decorrentes do aquecimento global colocarão à prova, cada vez mais, a capacidade de gestão dos governantes. O risco, segundo os professores da Ufrgs Luiz Antônio Bressani e Rualdo Menegat, é de que a crise ambiental gere uma crise de governança.  “A crise ambiental vai botar à mostra toda a nossa incapacidade de gerir um sistema complexo como é a Terra”, destaca Bressani. Se o poder público não for capaz de administrar os riscos dos desastres naturais, a tendência é a população perder a confiança. Isso, segundo Menegat, levaria ao caos social. “Se você desacredita nas instituições sobra o estado selvagem, cada um por si”, enfatiza. Para ele, é preciso que o Estado se empenhe no diálogo com os cidadãos, incentivando a participação e a discussão conjunta das soluções possíveis. “A governabilidade da sociedade não está só na contabilidade das cadeiras dentro do Senado. Daqui para frente, governabilidade será também como as instituições serão capazes de responder ao descontrole dos ambientes urbanos, porque, com o aquecimento global, tudo entra numa crescente deterioração.”

(JC-RS, 04/06/2010)


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