O planeta sofre com o resultado de centenas de anos de uso indiscriminado de suas riquezas naturais e de uma ínfima, para não dizer nenhuma, preocupação com o ambiente. Muito dessa desconsideração com o meio em que vivemos se deu e ainda se dá em razão da falta de informação. Engana-se, porém, quem acha que consciência ambiental é algo que se transmite de cima para baixo, através de leis, cobranças e punições. Consciência ambiental se adquire e se repassa horizontalmente, de pessoa para pessoa, de família para família, de comunidade para comunidade.
E que maneira melhor de mobilizar uma comunidade ao redor de uma causa do que incutir nas crianças o espírito de agentes transformadores e de multiplicadores de informação? É isso que faz o Programa de Educação Ambiental Compartilhado (PEAC). Criado em 2005, a iniciativa reúne o poder público, empresas e comunidades em um trabalho com excelentes resultados.
O PEAC é composto por 26 instituições. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) realiza as coordenações geral e técnica do programa. Já a Secretaria Estadual da Educação (SEC) promove a coordenação pedagógica. Também são parceiras as empresas Celulose Riograndense, Borrachas Vipal, Grupo Gerdau, Braskem, GM e Fibria. A proposta é formar e capacitar agentes prevencionistas e executar projetos socioambientais, visando a ações de desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Alunos, professores, pais e comunidade são chamados de agentes prevencionistas. A iniciativa já mobilizou 17 mil agentes, sendo mais de 10 mil alunos. As ações realizadas já beneficiaram 40 mil pessoas no Estado.
“O grande objetivo do PEAC é compartilhar conhecimento. Os resultados podem ser vistos nos 167 projetos socioambientais. O projeto mostra que educação ambiental é um efetivo instrumento de gestão, onde, através da educação, se mudam comportamentos”, afirma a coordenadora geral do programa, Lilian Zenker, que comandou as atividades do II Congresso Estadual de Agentes Prevencionistas, realizado na sexta-feira passada, em Porto Alegre.
Todas as atividades buscam estreitar a relação entre as escolas e a comunidade do entorno. “A intenção é envolver a todos. A proposta é a de pular o muro da escola. Que a escola busque o apoio da comunidade e que esta leve à escola suas demandas. Por isso temos o apoio da Associação dos Círculos de Pais e Mestres que mobiliza os pais. Precisamos de mudança de comportamento para termos um futuro melhor. Envolver criança, professor, família e comunidade é fundamental para esse processo”, ressalta Lilian.
A sintonia entre população e escola também é destacada pela coordenadora pedagógica do programa. “A grande vitória do PEAC foi essa aproximação. Alem disso, há uma ação continuada, pois ocorre a mudança de atitudes e isso fica para sempre”, enfatiza Hilda Diehl.
Conforme Lilian, o próprio currículo aplicado nas escolas acaba se transformando a partir do momento em que os projetos começam a ter andamento. “Os estudantes são muito receptivos ao programa e logo nos apresentam suas ideias. Cria-se uma proposta pedagógica na escola em que toda a disciplina, seja Matemática, Química, Física, enfim, aborda a temática ambiental”, destaca.
De acordo com o representante das empresas parceiras no evento, Carlos Julio Lautert, que atua como assessor de segurança e meio ambiente na Borrachas Vipal, o medo de que investimentos em projetos ambientais possam ocasionar prejuízos econômicos para as companhias não tem fundamento. “A publicação de balanços socioeconômicos ambientais faz com que, na maioria das vezes, as ações das empresas na bolsa se valorizem por elas mostrarem à sociedade o seu trabalho, dando, assim, confiabilidade ao negócio. No momento em que essas aplicam medidas corretas, as empresas têm retorno, só que muitas vezes não mensuram”, afirma. Segundo ele, as empresas estão muito satisfeitas com a parceria. “A experiência nos deixa confiantes da sustentabilidade que a iniciativa está construindo e alavancando”, observa.
Um total de R$ 1,2 milhão já foi investido no programa, sendo metade pelas empresas e metade pelo poder público. A intenção agora é de que o PEAC se torne uma política publica no Rio Grande do Sul. “Levaremos uma proposta de decreto para criarmos um programa de educação ambiental estadual permanente, uma ação de Estado, uma política pública dentro de um plano de educação ambiental”, destaca Lilian.
(JC-RS, 04/06/2010)