Embora o desmatamento da Amazônia tenha diminuído na última década, especialmente a partir de 2004, o número de queimadas na região pode ter aumentado. Esta é a conclusão do estudo "A Amazônia brasileira em chamas", publicado esta semana pela revista "Science". De acordo com os pesquisadores, o monitoramento promovido pelo governo federal na floresta, embora avançado, ainda é falho.
O programa detecta as áreas desmatadas, mas ignora que, mesmo já tendo sofrido devastação, as atividades econômicas produzidas ali também emitem carbono.
- A área total queimada pode estar aumentando - alerta o pesquisador brasileiro Luís Aragão, da Universidade de Exeter (Inglaterra). - Isso gera um aumento de áreas de borda, que são as fronteiras entre matas fachadas e zonas abertas. Se o fogo escapa, a floresta fica mais vulnerável.
Aragão ressalta as previsões climáticas de que a Amazônia ficará mais seca nas próximas décadas, o que propicia ainda mais a expansão das queimadas.
Segundo o pesquisador, o uso do fogo na floresta só pode ser controlado por meio de subsídios, que financiem a troca de velhas técnicas de cultivo por outras que não usem queimadas. Esta mudança exige apoio técnico ao agricultor, treinamento de pessoal e compra de máquinas.
O estudo publicado pela "Science" ainda aborda o nascente mercado de carbono, em que países desenvolvidos financiariam nações em desenvolvimento a preservarem suas florestas. Assim, haveria menos emissões de gases-estufa à atmosfera. Estima-se que esta política, cujo formato ainda será decidido pela comunidade internacional, poderia poupar a liberação de 13 a 50 bilhões de toneladas de carbono até 2100.
(Por Renato Grandelle, O Globo, 03/06/2010)