Em Angola, muitas pessoas, entre adolescentes e adultos, fazem do tabaco o seu companheiro diário, por encontrarem no vício um alívio contra o stress, a depressão, os problemas familiares ou profissionais. A propósito da efeméride, o Jornal de Angola saiu à rua e foi ouvir pessoas que, após longos anos de tabagismo deixaram de fumar e outras que ainda lutam por largar o vício.
Anezia de Sousa, uma ex-fumadora que não quis ser fotografada, contou à nossa reportagem que fumou durante 23 anos e só largou o vício há três. Hoje com 50 anos e péssimas memórias do tempo em que fumou, Anezia de Sousa explica que começou a fumar aos 17, por influência de colegas da escola.
Como uma delas tinha um dente partido à frente, Anezia decidiu que também queria, a todo o custo, ter um dente da frente partido, porque, diz, achava muito charmoso. “Elas disseram-me que tinha de fumar e, logo a seguir, chupar gelado para o dente estalar”. Mas não resultou, embora fumasse e chupasse gelado sempre que estava em companhia das colegas. O dente não partia e o vício aumentava cada dia que passava. Tudo era feito às escondidas da família. E, quando deu por si, já se tinha tornado dependente do cigarro.
Um dia casou e num outro separou-se do marido. Como consolo, fumava. Tinha a sensação de que dessa forma não se lembrava tanto dos problemas. “Os filhos, ao verem a minha dedicação ao cigarro, pediam-me para arranjar um namorado que me ocupasse o tempo livre, e também escondiam os maços de cigarro”, recorda Anezia.
Até que um dia, cansada de tantas chamadas de atenção dos dois filhos, decidiu parar de fumar. Ao princípio ficava muita aflita por não levar o cigarro à boca. “Mas consegui largar o vício”, afirma. Mas, por ter fumado anos a fio, o fumo que Anezia inalava deixou-lhe manchas negras na vesícula biliar, na pele, nos dedos das mãos e nos lábios.
O filho mais velho nasceu com peso abaixo da média e com anemia. Já o segundo, uma menina, veio ao mundo com problemas de saúde na vesícula biliar. Quando falou com a mãe, o Jornal de Angola soube que a filha seria submetida, na semana em que decorreu a nossa conversa, a uma intervenção cirúrgica à vesícula biliar.
As más influências do cinema e televisão
Délcio Fernandes, 20 anos, começou a fumar por influência de um filme a que assistiu quando tinha 12 anos e sem os pais se aperceberem. Escondia-se na cave do prédio e em carros abandonados para fumar e levava consigo alguns amigos que ainda hoje são fumadores. “Depois de assistir ao filme que incentivava muitas crianças a fumar para serem aceites no grupo de amigos, também decidi fumar. Mas no primeiro dia não gostei. Fui repetindo até que me acostumei”, contou-nos Délcio. Como não trabalhava, roubava dinheiro aos pais para comprar cigarros e, para que eles não desconfiassem, mascava sempre pastilha.
Cinco anos depois, pensando que estava sozinho em casa, começou a fumar para relaxar. Distraído, a mãe apanhou-o com a “boca na botija”. Apesar da repreensão que levou, já era tarde para largar o cigarro, porque fumava um maço e meio por dia fosse qual fosse a marca. “Os meus pais aconselhavam-me a deixar o vício. Deram-me castigos, como cortar muitas regalias. Mas, mesmo assim, não conseguia, embora tivesse tentado várias vezes”.
Em 2008, perdeu os sentidos na sequência de uma forte dor de cabeça acompanhada de tosse. No hospital, os médicos disseram-lhe que tinha tuberculose em estado avançado e gastrite crónica, porque fumava mais do que comia.
Os pulmões escureceram e a sua visão ficou turva. Para tentar inverter o quadro clínico, teve de ser operado, seguir a medicação à risca para limpar o organismo e deixar de fumar definitivamente. Foi o fez para salvar a vida.
Quando os pais também fumam
Edna Cunha é uma jovem de 30 anos. Fumadora inveterada, ganhou o vício por ver, vezes sem conta, os pais a fumarem. “Quando era mais pequena dizia que queria ser fumadora como os meus pais porque tinha curiosidade de saber o gosto pelo cigarro e o porquê de eles fumarem tanto”.
O desejo de ser fumadora foi ganhando corpo quando tinha 15 anos. A escola acabou por facilitar as coisas, uma vez que encontrou algumas colegas que já se dedicavam de corpo e alma ao vício do cigarro. “Quando a minha mãe se apercebeu de que eu estava a fumar, abandonou completamente o cigarro de modo a incentivar-me a também parar. Mas não surtiu efeito. Continuo a fumar”, um vício que dura há 15 anos.
Edna diz que, por iniciativa própria, já tentou parar várias vezes, mas o máximo que consegue fazer são dois a três dias sem fumar. Naqueles em que fica sem fumar, irrita-se facilmente com as pessoas e fica perturbada. Assim que volta a fumar, a tendência é para o fazer em quantidades industriais, com o objectivo de recuperar os dias em que se privou do prazer que o vício lhe provoca.
(AngoNoticias, 31/05/2010)