A tecnologia não está preparada para contenção de vazamentos de óleo em área tão profunda do mar quanto a da plataforma do Golfo do México que explodiu em abril e está causando o maior derramamento de óleo dos Estados Unidos. Este é o pensamento de Alejandro Yáñez-Arancibia, professor e pesquisador da Rede Ambiente e Sustentabilidade da Unidade de Ecossistemas Costeiros do Instituto de Ecologia A.C., no México, que na última sexta-feira foi palestrante da aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento Costeiro da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), ocorrida no auditório do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar). "Trabalhar a 1.800 metros de profundidade é um risco muito grande e o petróleo de tão grande cavidade não é de qualidade. É fino", diz ele.
Yáñez-Arancibia, também pós-doutor em Ecologia e Manejo de Ecossistemas Costeiros da Universidade Estadual de Louisiana, Estados Unidos, salientou que um derrame de óleo destes em um período em que começa a haver redução de petróleo, é um drama economicamente. Além disso, deve-se considerar os prejuízos ao turismo se esse óleo impactar as praias e ir para outros estados (como Alabama, Mississipe, Louisiania). "Se o derrame de petróleo continuar por um ou dois meses mais e os ventos e as correntes marítimas mudarem, não haverá controle e o petróleo pode ir para os portos, as cidades, bosques e costas, e atingir não só os Estados Unidos, mas também a costa mexicana. Precisamos que o vazamento seja controlado logo", destacou.
O pesquisador ministrou a palestra sobre “Crise Ambiental e Implicação Cultural, Social e Econômica no Século XXI”. Conforme ele, por volta de 1950 um pesquisador dos Estados Unidos, Marion Hubbert, previu que em 1970 haveria o pico do petróleo e que nos anos 2000, esse produto terminaria. Novas descobertas de áreas com petróleo têm acontecido, como no Brasil, mas os volumes não são os esperados porque a demanda aumentou muito, segundo ele.
"Nos anos 50 a população do planeta chegava a 4 ou 5 bilhões de habitantes. Hoje somos 7 bilhões de habitantes e em 2050 vamos ser 10 bilhões. E o consumo do petróleo aumentará quase 40% em relação ao que ocorre hoje. Talvez com grande demanda por parte de economias emergentes fortes. O fim da fase do petróleo e busca por outras energias, será um componente que criará um problema social. Isso porque a mudança energética não é instantânea", explicou.
O professor recorda que quando houve a troca do carvão pelo petróleo, depois da Guerra Mundial, a transição se estendeu por 25 anos. "Agora, quanto vamos demorar para mudar de petróleo para outras energias? Isto não está claro, de forma que em 2030 vamos viver um grande problema econômico de energia no planeta, com sérias consequências", salientou. Ele entende que os países precisam investir e definir os rumos das fontes de energia nas quais podem apostar. E afirma que esta problemática terá reflexos no gerenciamento costeiro, vai afetar seu manejo, porque tudo depende da energia.
Gerenciamento costeiro
"O gerenciamento costeiro tem que atuar em restauração de ecossistemas, na reabilitação do ecossistema degradado. Temos que intervir no aspecto do transporte terrestre e marítimo no gerenciamento costeiro, na pesca costeira, nas zonas urbanas das costas. Tudo isso necessita de energia. A energia é um insumo que está em todas as atividades. Se está havendo um problema de troca do padrão energético, o gerenciamento costeiro vai enfrentar um dilema muito grande", assegura. Ele chama atenção para o fato de que não há desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico.
As mudanças climáticas se constituem no segundo grave problema. "É uma questão real". O pesquisador diz que estamos em um processo avançado de eventos climáticos, meteorológicos, que não eram esperados tão rápido. Citou como exemplos, as chuvas torrenciais extremas, secas extremas, ruptura da camada de ozônio, os degelos, entre outros. Lembrou o furacão Catarina, ocorrido em março de 2004, em Santa Catarina. E alertou que as mudanças climáticas vão afetar grandes cidades costeiras. "É preciso definir políticas públicas para se adequar às necessidades que virão, para amenizar os impactos, ou trocar de lugar. Em algumas áreas será preciso mudar os centros urbanos de lugar", ressaltou.
De acordo com o pesquisador, não se tem condições de evitar estes eventos climáticos. A situação é irreversível. No entanto, as cidades podem adaptar-se, preparar-se e mitigar os impactos.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 31/05/2010)