Uma grande calculadora. É assim que o engenheiro Olivier Gilbert, da empresa francesa EnviroConsult, define o Bilan Carbone. A técnica que mede de forma ampla o consumo de carbono de uma empresa ou organização foi criada em 2003 e, hoje, é obrigatória na França para empresas com mais de 500 funcionários e cidades com mais de 50 mil habitantes.
A Agência Nacional para o Meio Ambiente e Gestão de Energia (Ademe), órgão do governo francês, foi a responsável pelo projeto que agora quer fixar âncora no Brasil. Mais de 3,7 mil empresas e organizações francesas já passaram pelo processo que mapeia as fontes de emissão de gases do efeito estufa, os GEE, como se usasse uma lupa eficiente.
A chegada do novo método em terras brasileiras só foi possível devido a uma parceria com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), órgão vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, que iniciou em 2008.
– A nossa rede de qualidade do ar estava desgastada, precisávamos agir – conta Regina Telli, presidente da Fepam.
O primeiro passo proposto foi a análise dos GEE emitidos pelo órgão por meio do método Bilan Carbone. O segundo inclui o Plano Ar Clima Energia, que aproxima as ações das três áreas para aprimorar o rendimento de cada uma.
A parceria começou em março deste ano e deve se estender até junho do ano que vem. Além da análise da Fepam, os franceses desejavam avaliar uma empresa privada, também de forma piloto.
Preocupada com o impacto de seu processo produtivo, a Celulose Riograndense (CMPC) aceitou o desafio e deve receber o primeiro relatório sobre suas ações em setembro.
– É um método mais preciso e com credibilidade internacional – afirma Walter Lídio Nunes.
O primeiro passo para o sucesso do Bilan Carbone é a sensibilização, conta Charlotte Raymond, coordenadora do projeto no Brasil. Todos os envolvidos na empresa ou no órgão que será pesquisado precisam entender por que aquilo está sendo feito.
O crescente aumento da população mundial e dos níveis de consumo são o pontapé inicial para um projeto que, durante meses, analisa desde as matérias-primas que chegam à empresa, passando pelo impacto do produto com o consumidor, até as emissões geradas pelo transporte dos funcionários.
– Queremos chegar até o consumo de carbono que está escondido no processo produtivo – garante Gilbert.
O objetivo do Bilan Carbone não é acusar, e sim, diagnosticar o que precisa e pode ser feito dentro de empresas, órgãos públicos ou, até mesmo, cidades. Da mesma forma, a empresa não é obrigada a colocar em prática as ações sugeridas, nem ganha um selo de certificação.
As pessoas envolvidas durante o inventário, sejam elas funcionárias ou não, é que são certificadas. Segundo os consultores franceses, o Bilan Carbone seria semelhante a um óculos de infravermelho em busca de emissões. Para avaliar o impacto em países diferentes, é preciso atualizar o método a partir de conversões. Hoje, além do piloto no Brasil, a EnviroConsult trabalha para se deslocar com a nova forma de avaliação de impacto para Canadá, Estados Unidos e Marrocos.
(Zero Hora, 31/05/2010)