A exploração ilegal de carvão vegetal para siderúrgicas tornou Minas Gerais o Estado campeão de desmatamento na mata atlântica.
O dado é da nova edição do atlas de remanescentes do bioma, divulgado ontem pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela ONG SOS Mata Atlântica.
As imagens de satélite trazem, por um lado, uma boa notícia: nos nove Estados monitorados entre 2008 e 2010, a devastação no bioma caiu 21% em comparação com a média anual do período anterior, de 2005 a 2008.
Até em Santa Catarina, tradicional líder em destruição do bioma, o desmate caiu.
Apesar da aprovação, no ano passado, de uma lei que permite aos produtores do Estado desmatarem a mais em margens de rio (áreas de proteção permanente), o Estado teve uma redução de 75% na taxa de desmatamento entre 2008 e 2010 em relação à média de 2005 a 2008.
Segundo Flávio Ponzoni, coordenador do monitoramento da mata atlântica do Inpe, a queda provavelmente pode ser explicada pelas chuvas do final de 2008, que arrasaram Santa Catarina -e frearam a economia.
VENDO ALÉM
Por outro lado, Minas e Rio Grande do Sul contrariaram a tendência geral, com 15% e 83% de aumento na taxa, respectivamente.
Neste último Estado, a devastação se concentrou na região serrana.
Segundo Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica, a razão da explosão do desmatamento observado em terras gaúchas ainda precisa ser explicada.
Mas ela se deve provavelmente não a uma mudança radical na economia, mas à melhora do método de detecção, que consegue "enxergar" derrubadas menores.
"No Sul as propriedades são pequenas. Há 20 anos [quando o monitoramento começou] só conseguíamos ver desmatamentos maiores que 40 hectares. Hoje, enxergamos até 3 hectares."
Já em Minas, apesar de a porcentagem de aumento na taxa ser menor, o tamanho da devastação é bem maior: foram 12.524 ha de mata atlântica perdidos entre 2008 e 2010, contra 1.897 ha no Rio Grande do Sul.
TRANSIÇÃO
Os cinco municípios que mais desmataram o bioma estão todos no norte mineiro, em florestas de transição entre mata atlântica, cerrado e caatinga. Nessas áreas há exploração de lenha para a fabricação de carvão vegetal.
Segundo Hirota, é a mesma região que concentrara a derrubada em 2005-2008. "Nós já havíamos alertado o governo do Estado", diz. "Seria interessante ver o que eles fizeram a respeito."
Está em tramitação na Assembleia Legislativa mineira um projeto de lei para excluir as matas dessa região, as chamadas "florestas secas", da proteção da Lei da Mata Atlântica, Isso legalizaria desmatamentos ali.
"O problema da siderurgia tem solução", disse Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica. "[Minas] já tem uma área plantada extensa [de eucalipto para fabricar carvão], mas há o problema do contrabando."
Estado diz que cerco a empresa está crescendo
Os números divulgados ontem foram confirmados pelo governo de Minas Gerais, cujo sistema próprio de monitoramento do desmate detectou uma perda de 12.100 hectares de mata atlântica entre 2008 e 2010.
No entanto, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado diz que, se considerados os últimos 10 anos, o desmatamento caiu: ele foi de 4,27% da área remanescente do bioma entre 1995 e 2000 para 0,47% no último triênio.
Além disso, afirma a secretaria, o número de municípios que desmatam caiu de 405 entre 2005 e 2008 para 159 entre 2008 e 2010.
Segundo o governo, uma lei aprovada em 2009 amplia a proteção das florestas, estabelecendo que em 2013 as empresas consumidoras de produtos florestais, como o carvão, poderão usar no máximo 15% da matéria-prima de florestas nativas. (CA)
(Folha de São Paulo, 27/05/2010)