A questão não é se os biocombustíveis são a solução para os problemas de suprimento sustentável de energia, mas como eles devem ser implantados. A afirmação fez parte das conclusões do Workshop Scientific Issues on Biofuels, realizado pela FAPESP nos dias 24 e 25 de maio, na sede da Fundação.
As maneiras como os novos combustíveis serão implantados e quais são mais viáveis são questões que dependem das características de cada país, as quais devem ser respeitadas, de acordo com os especialistas presentes.
Mesmo os motivos que levam à adoção desses combustíveis são diversos e têm pesos diferentes para cada nação: o preço mais baixo em relação a outras fontes energéticas, como solar, eólica e hidrogênio; a necessidade de mitigar as emissões de gases de efeito estufa; ou o fato de ser a única alternativa viável no curto prazo para substituir os combustíveis fósseis são alguns exemplos.
Um dos principais desafios para a expansão no uso dos biocombustíveis está no início da cadeia produtiva: as mudanças no uso da terra. Segundo os pesquisadores, ainda é necessário aumentar a qualidade e a confiabilidade dos dados coletados nessa área, fundamentais para avaliar a sustentabilidade da produção.
A produção brasileira de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, foi utilizada como exemplo por Joaquim Seabra, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), e Leila Harfuch, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), para ilustrar a questão.
“O Brasil é muito grande e possui diferentes dinâmicas agrícolas, o que torna a medição um problema complexo”, disse Leila. Para complicar, os diferentes parâmetros de medição também produzem resultados diversos, dificultando a análise.
Para contornar o problema, a pesquisadora propõe acrescentar outras fontes de dados provenientes de microrregiões. Entre os dados a serem aprimorados estão os índices de expansão e de substituição das lavouras.
A precisão desses números é fundamental, entre outras razões, para determinar o balanço de gases de efeito estufa e se está ocorrendo ou não degradação de áreas naturais em favor da agricultura.
O impacto de plantações de cana-de-açúcar no ciclo do carbono, por exemplo, depende do tipo de cobertura que existia no local da lavoura. Heitor Cantarella, do Instituto Agronômico de Campinas, apresentou dados que mostram que a cana-de-açúcar absorve mais carbono em relação às pastagens. No entanto, se a plantação substituir uma floresta, a nova cobertura vegetal vai absorver menos carbono.
Outra conclusão do evento foi a de que o Brasil precisa melhorar os modelos dinâmicos utilizados para estudar o uso da terra. Esses modelos precisam aumentar em número e também testar mais cenários.
Também foi ressaltada a necessidade de pesquisas mais abrangentes que abordem as diversas relações envolvidas na produção de biocombustíveis, como as questões que envolvem agricultura, florestas, bioenergia, ecossistemas e ciclo de gases estufa, entre outros.
Mesmo com esses obstáculos, o Brasil foi destacado pelos pesquisadores presentes no workshop como um caso exemplar de sucesso na implantação de biocombustível, devido à sua experiência com o etanol da cana-de-açúcar.
Utilizando apenas 1% das terras aráveis, as plantações de cana brasileiras substituem cerca de 30% da gasolina consumida no país, de maneira economicamente viável e sem a necessidade de subsídios, destacaram os relatores na conclusão do evento.
Segundo eles, os aspectos sociais da produção da cana-de-açúcar também têm melhorado no país, que apresenta dados de evolução da escolaridade entre as gerações de trabalhadores da cana-de-açúcar.
(Por Fabio Reynol, Agência FAPESP, 26/5/2010)