O governo do Peru anunciou na última sexta-feira (21) a abertura de processos de licitação para exploração petrolífera em 25 novos lotes de terra localizados na Amazônia do país. A agenda de concessões para 2010 segue até outubro e abrange uma área não explorada na floresta de 10 milhões de hectares, equivalente a pouco mais do que duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro.
Dos novos lotes apresentados pela Perupetro, empresa estatal do setor no país, apenas um está fora da Amazônia e possui 314 mil hectares. Entre os outros, todos na Amazônia, a novidade está no redesenho do Lote 110, localizado na bacia do Ucayali, próximo a fronteira com o Brasil, no Acre. Pertencente a brasileira Petrobras, o lote aparecia no mapa do ano passado, mas em 2010 foi extinto e redividido em novas concessões.
Isso ocorreu em respeito aos limites da reserva indígena dos murunahua, também conhecidos como chitonahua. Vivendo de maneira isolada no país, os índios tinham sua reserva ameaçada pelo avanço das empresas petrolíferas. Agora, com a nova configuração, ao menos dois novos lotes, o 188 e o 189, foram instituídos bem ao lado dos murunahua, mas sem invadir seu território.
Organizações não governamentais como a Survival International chamam a atenção para o perigo que podem correr índios isolados no Peru com a evolução da atividade petrolífera no país. De acordo com a ONG, alguns dos murunahua foram contactados pela primeira vez em meados do anos de 1990 e, na ocasião, metade dos índios faleceu por conta de uma gripe.
De acordo com a Associação Interétnica da Selva Peruna (Aidesp), o crescimento da exploração de petróleo e gás natural na Amazônia peruana também ameaça outros povos. Em nota publicada no fim da semana passada, a associação informou ter enviado nova carta às autoridades lembrando sobre a presença de populações em áreas destinadas à exploração. Previsto nas licitações para 2010, o lote 177 seria uma dessas áreas, onde vivem ao menos duas comunidades.
(Globo Amazônia, 24/05/2010)