Os cabos pendurados nos painéis do teto já diziam tudo. Esta não era apenas mais uma sala de trabalho genérica de um prédio comercial no grande terreno da companhia de petróleo BP. Ou ainda: esta não era mais apenas outra sala. Como muitas outras do terceiro andar do prédio, ela havia sido tomada por engenheiros e técnicos, trabalhando para brecar o fluxo de petróleo de um poço no Golfo do México.
“Este lugar nunca foi preparado para computadores”, disse Kent Wells, executivo da BP, apontando cabos que levavam a laptops em toda a sala. “Fizemos isso na segunda noite”.
Essa seria a segunda noite após uma explosão na plataforma de perfuração Deepwater Horizon, no Golfo do México. O desastre matou 11 trabalhadores e fez com que uma torrente de petróleo caísse de sua fonte a 5 mil pés abaixo, o que vem fazendo sem trégua há quase quatro semanas.
Desde então, Wells, que quando não está em modo de crise é responsável pelo negócio de produção de gás em terra firme, tem supervisionado os trabalhos embaixo d’água para ao menos conter o petróleo e, preferivelmente, selar o poço em breve – em vez de esperar vários meses pela perfuração de um poço de alívio, que faria o serviço.
Os esforços submarinos estão sendo desenvolvidos e coordenados aqui, num espaço normalmente usado para treinamento e gerenciamento das operações da empresa durante furacões. Cerca de 500 pessoas estão envolvidas – 200 delas trabalhando no turno da noite.
A sala apressadamente cabeada, por exemplo, era onde uma equipe de engenheiros trabalhava em planos para tentar uma “ação de topo”, talvez no fim desta semana, de parar o vazamento bombeando lama pesada de perfuração dentro do poço. Algumas portas adiante, outra sala era ocupada pela versão BP dos controladores de tráfego aéreo – só que eles coordenavam os movimentos de perfuratrizes e navios de apoio na superfície do local do poço, 130 milhas a sudeste de Nova Orleans.
Outras equipes de projeto, trabalhando na contenção do petróleo à medida que este vaza embaixo d’água, obtiveram algum sucesso ao longo do fim de semana, quando um tubo especial inserido num cano vazando começou a puxar petróleo até um navio na superfície.
Apenas cerca de 60% dos trabalhadores são funcionários da BP; o resto vem de algum dos concorrentes da empresa – engenheiros da Exxon estavam trabalhando no projeto da ação de topo, por exemplo – em laboratórios do exército e do governo, e das empresas diretamente envolvidas no desastre. Executivos da BP e dessas empresas, incluindo a Transocean, proprietária da Deepwater Horizon, e a Halliburton, que havia terminado de selar o poço com cimento 20 horas antes da explosão, acusaram uns aos outros numa audiência do congresso na última semana. Aqui, porém, reinava a paz.
“Aqui dentro você tem Halliburton, Transocean e BP trabalhando em conjunto”, afirmou Wells. “O que acontece em Washington você nem fica sabendo por aqui”.
Um quarto escuro chamado de colmeia é foco de grande parte das atividades, pois é aqui que muitos dos planos e procedimentos desenhados pelas diversas equipes, e aprovados por um comando unificado na Louisiana, são levados à ação.
Montada basicamente como um tipo de cinema 3-D, que usa dados geofísicos para ajudar a visualizar locais de potenciais depósitos de petróleo e gás, a colmeia foi tomada por controladores envolvidos com os robôs submergíveis – a única forma de trabalhar a 5 mil pés de profundidade, onde a pressão da água pode ser 150 vezes maior que a pressão atmosférica.
Os técnicos na sala não controlam diretamente os submergíveis, conhecidos como veículos operados remotamente, ou ROVs (da sigla em inglês). Na verdade eles planejam todos seus movimentos, e as instruções são enviadas a navios acima do poço, onde pilotos executam as ações com a ajuda de câmeras em cada submergível. O vídeo em tempo real também é enviado à sala de controle em Houston.
Cada navio de apoio opera dois ROVs, ligados por cabos que fornecem 30 mil volts de eletricidade e linhas de vídeo e comunicação.
“Nós chegamos a ter 16 ROVs”, disse Wells. “Mas o máximo que vi em operação de uma só vez foram 12”.
Pelos padrões normais de perfuração subterrânea, até mesmo 12 é um número extraordinário, e coreografar os movimentos, tanto dos ROVs quanto de seus navios de apoio, pode ser muito difícil.
No final de semana, segundo Wells, dois submergíveis estavam brigando com o tubo que havia sido inserido no cano maior, danificado, para encaminhar parte do petróleo à superfície. “Quando os ROVs o estavam segurando, eles se confundiram um pouco e o tubo se desconectou”, contou ele no domingo. Posteriormente, ele foi reinserido com sucesso.
A maioria dos ROVs industriais possui dois braços – um com cinco funções projetadas para pegar e segurar, e o outro, com sete funções, que consegue fazer o trabalho refinado de manipular objetos. Além das câmeras e luzes, eles possuem uma caixa aberta na parte da frente para apoio aos trabalhadores, cheia de ferramentas e outros equipamentos.
Wells disse que passou realmente a admirar a habilidade dos pilotos de ROV nos primeiros dias após o desastre, quando ele e outros tentavam descobrir como ativar bombas hidráulicas na válvula contra explosões, a grande pilha de equipamento no fundo do oceano que falhou em selar o poço.
“Foi inacreditável o que as pessoas fizeram lá embaixo”, disse ele. “Aqueles caras dos ROVs, eles chegavam lá e desconectavam mangueiras com uma chave de boca. E estou falando de alcançar todas as mangueiras”.
Esses esforços foram basicamente malsucedidos, porém, explicando por que o foco atual está no método da ação de topo – de bombear lama pesada através da válvula contra explosões e para dentro do poço. Isso pode ser precedido pelo chamado “disparo de lixo”, onde materiais como bolas de golfe e pedaços de borracha seriam inseridos na válvula para criar pontes em lacunas das bombas, e parar, ou reduzir drasticamente, o fluxo de petróleo.
As duas técnicas exigiram muito trabalho, durante as duas últimas semanas, por parte dos ROVs, para remover certos canos da válvula contra explosões e instalar novos canos e equipamentos no fundo do mar. E quando as técnicas forem empreendidas, os ROVs estarão a postos, abrindo válvulas especiais quando necessário.
Mesmo tarefas aparentemente simples de solda, porém, são complicadas no extremo frio e na alta pressão de 5 mil pés, especialmente se mais de um ROV estiver envolvido. Wells descreveu um trabalho recente, no qual foram necessários 3 ROVs trabalhando juntos para prender uma mangueira em cima da válvula contra explosões. Pat Campbell, um especialista em controle de poços que trabalha com a BP no projeto, disse que os pilotos de ROV estavam aprendendo muito com essas ações fora do comum. Ele havia recentemente testado equipamentos para o projeto em Lafayette, Louisiana, e se encontrou com alguns dos pilotos.
“Eles foram muito úteis para nós, pois podiam descrever coisas que seriam difíceis de fazer com um ROV”, contou ele. “Mas talvez houvesse uma solução para tornarmos aquilo menos difícil”.
(Por Henry Fountain, The New York Times, UOL, 24/05/2010)